Gramaticando
Regência Verbal
17 de Outubro de 2012Oi, gente! Lembram-se do conceito de transitividades verbais? O que é um verbo de ligação, transitivo, intransitivo? Se não, leia esse artigo http://ivanperina.webnode.com/news/transitividades-verbais/ antes de seguir.
Leu? Compreendeu? Agora podemos seguir falando sobre regência verbal.
Antes de tudo, tenha em mente que a transitividade verbal não é fixa. Note o exemplo do verbo “falar”.
“A criança fala”
“A criança fala francês”
“A criança fala de futebol”
“A criança fala a resposta ao professor”
Notaram que, nos casos acima, “falar” possui uma transitividade diferente em cada um? No primeiro, não existe um complemento para ele (“quem fala, fala”) sendo considerado um Verbo Intransitivo. No segundo, existe um complemento que não rege preposição pra ele, sendo considerado um Verbo Transitivo Direto (quem fala, fala alguma coisa). No terceiro, o complemento rege preposição, sendo considerado um Verbo Transitivo Indireto (quem fala, fala de alguma coisa). No último caso, aparecem os dois tipos de complemento, o que rege e o que não rege preposição, sendo considerado um Verbo Transitivo Direto e Indireto (quem fala, fala algo a alguém).
Interessante notar que, mesmo com as alterações, o sentido do verbo não se alterou e nem houve uma grande inadequação gramatical. Porém, existem alguns verbos cujo significado se altera de acordo com a transitividade. Ou que possuem erros frequentes na construção. Nesse artigo, listaremos os mais abordados em exames vestibulares ou que causam polêmica na hora da escrita. Vamos a eles?
Agradecer/Pagar/Perdoar
Esse trio de verbos admite duas transitividades possíveis:
VTD – Complemento faz referência a um ser não personificado, ou seja, a algo que não é uma pessoa. Note em: Agradeceu a atenção, Pagou o salário e Perdoou o erro. Todos possuem OD, uma vez que os complementos não regem preposição.
VTI – Complemento faz referência a um ser personificado, ou seja, a uma pessoa. Note em: Agradeceu aos ouvintes, Pagou ao funcionário e Perdoou ao amigo. Todos possuem OI, uma vez que os complementos regem a preposição “a”.
VTDI – Existem casos nos quais aparecerão ambos os complementos, tanto o direto (não-pessoa) quanto o indireto (pessoa). Repare em “Agradeceu a atenção aos ouvintes”, “Pagou o salário ao funcionário” e “Perdoou o erro ao amigo”. As construções possuem os dois tipos de complemento, caracterizando, assim, o VTDI.
Esquecer/Lembrar
Os verbos Esquecer e Lembrar possuem duas formas distintas de serem escritas.
VTD – O verbo esquecer/lembrar é considerado um verbo transitivo direto quando não acompanhado por pronome (Eu esqueci o documento, Ela lembrou a verdade).
VTIp – O verbo esquecer é transitivo indireto quando acompanhado por pronome (Eu me esqueci do documento, Ela se lembrou da verdade).
Notaram a particularidade? Ou deve-se conjugar esses verbos sem preposição e sem o pronome (quem esquece, esquece alguma coisa; quem lembra, lembra alguma coisa) ou com ambos (quem se esquece, esquece-se de alguma coisa; quem se lembra, lembra-se de alguma coisa). Portanto, construções como “Eu esqueci de pegar a carteira” seriam consideradas incorretas, sendo cabíveis as possibilidades “Eu esqueci pegar a carteira” ou “Eu me esqueci de pegar a carteira”. Ou coloca os dois, ou não coloca nenhum.
Implicar
O verbo implicar possui duas transitividades com sentidos distintos.
VTD – Se considerarmos o VTD “Implicar”, será usado com o sentido de “causar”, ou ainda “acarretar”, como na frase: Suas atitudes implicam mudanças (sinônimo de “Suas atitudes causam mudanças”).
VTI – Já como VTI, seu sentido passa a ser “ter implicância com”, ou ainda “importunar” ou “ser importunado”. Note: Eu implico com minha mãe (sinônimo de “Eu tenho implicância com minha mãe”).
Assistir
O verbo assistir possui três transitividades e quatro sentidos distintos.
VTD – Sendo transitivo direto, assistir será sinônimo de “prestar assistência”, como em “O médico assistiu o paciente” (sinônimo de “ajudou”, ou “socorreu”).
VTI – Sendo transitivo indireto, assistir será sinônimo de “ver”, como na frase: Eu assisti ao jogo de futebol (“eu vi o jogo de futebol”). Construções típicas da oralidade como “Eu assisto a novela” seriam consideradas inadequadas, uma vez que, para dizer que se vê a novela, deve-se dizer “Eu assisto à novela”.
Um outro sentido possível é de “caber”, ou “pertencer”, como “Essa tarefa assiste a você” (sinônimo de “Essa tarefa pertence a você”), porém, é raramente utilizado.
VI – Um caso raríssimo de uso é quando significa “morar”. Tal uso é visto na frase “Eu assisto em Campinas”, sinônimo de “Eu moro em Campinas”. Note que, nesse caso, o verbo é intransitivo, uma vez que “em Campinas” é um adjunto adverbial de lugar, assim, não existe complemento verbal, tornando-o intransitivo.
Visar
O verbo visar possui duas transitividades e dois sentidos distintos.
VTD – Sendo transitivo direto, será sinônimo de “olhar para”, como em “O astrônomo visava as estrelas”, significando que ele estava olhando para elas.
VTI – Sendo transitivo indireto, será sinônimo de “aspirar”, ou “desejar”, como em “O estagiário visava a uma promoção”, significando que ele deseja uma promoção.
Aspirar
Semelhantemente ao verbo “visar”, o verbo aspirar possui duas transitividades e dois sentidos distintos.
VTD – Sendo transitivo direto, será sinônimo de “inalar”, ou ainda, “sugar”, como em “O homem do campo aspira ar mais puro”, significando que ele respira esse ar.
VTI – Sendo transitivo indireto, será sinônimo de “desejar”, como em “O estagiário aspirava a uma promoção”, significando que ele deseja uma promoção.
Entendido o conceito, gente? Não vão se esquecer dessas regrinhas, ok?
Qualquer coisa, entrem em contato. Um beijo no coração e até a próxima!
Ivan Perina, Professor de Língua Portuguesa, Graduando em Letras pela UNICAMP
Para ler mais, acesse: www.ivanperina.webnode.com
Oi, gente! Lembram-se do conceito de transitividades verbais? O que é um verbo de ligação, transitivo, intransitivo? Se não, leia esse artigo http://ivanperina.webnode.com/news/transitividades-verbais/ antes de seguir.
Leu? Compreendeu? Agora podemos seguir falando sobre regência verbal.
Antes de tudo, tenha em mente que a transitividade verbal não é fixa. Note o exemplo do verbo “falar”.
“A criança fala”
“A criança fala francês”
“A criança fala de futebol”
“A criança fala a resposta ao professor”
Notaram que, nos casos acima, “falar” possui uma transitividade diferente em cada um? No primeiro, não existe um complemento para ele (“quem fala, fala”) sendo considerado um Verbo Intransitivo. No segundo, existe um complemento que não rege preposição pra ele, sendo considerado um Verbo Transitivo Direto (quem fala, fala alguma coisa). No terceiro, o complemento rege preposição, sendo considerado um Verbo Transitivo Indireto (quem fala, fala de alguma coisa). No último caso, aparecem os dois tipos de complemento, o que rege e o que não rege preposição, sendo considerado um Verbo Transitivo Direto e Indireto (quem fala, fala algo a alguém).
Interessante notar que, mesmo com as alterações, o sentido do verbo não se alterou e nem houve uma grande inadequação gramatical. Porém, existem alguns verbos cujo significado se altera de acordo com a transitividade. Ou que possuem erros frequentes na construção. Nesse artigo, listaremos os mais abordados em exames vestibulares ou que causam polêmica na hora da escrita. Vamos a eles?
Agradecer/Pagar/Perdoar
Esse trio de verbos admite duas transitividades possíveis:
VTD – Complemento faz referência a um ser não personificado, ou seja, a algo que não é uma pessoa. Note em: Agradeceu a atenção, Pagou o salário e Perdoou o erro. Todos possuem OD, uma vez que os complementos não regem preposição.
VTI – Complemento faz referência a um ser personificado, ou seja, a uma pessoa. Note em: Agradeceu aos ouvintes, Pagou ao funcionário e Perdoou ao amigo. Todos possuem OI, uma vez que os complementos regem a preposição “a”.
VTDI – Existem casos nos quais aparecerão ambos os complementos, tanto o direto (não-pessoa) quanto o indireto (pessoa). Repare em “Agradeceu a atenção aos ouvintes”, “Pagou o salário ao funcionário” e “Perdoou o erro ao amigo”. As construções possuem os dois tipos de complemento, caracterizando, assim, o VTDI.
Esquecer/Lembrar
Os verbos Esquecer e Lembrar possuem duas formas distintas de serem escritas.
VTD – O verbo esquecer/lembrar é considerado um verbo transitivo direto quando não acompanhado por pronome (Eu esqueci o documento, Ela lembrou a verdade).
VTIp – O verbo esquecer é transitivo indireto quando acompanhado por pronome (Eu me esqueci do documento, Ela se lembrou da verdade).
Notaram a particularidade? Ou deve-se conjugar esses verbos sem preposição e sem o pronome (quem esquece, esquece alguma coisa; quem lembra, lembra alguma coisa) ou com ambos (quem se esquece, esquece-se de alguma coisa; quem se lembra, lembra-se de alguma coisa). Portanto, construções como “Eu esqueci de pegar a carteira” seriam consideradas incorretas, sendo cabíveis as possibilidades “Eu esqueci pegar a carteira” ou “Eu me esqueci de pegar a carteira”. Ou coloca os dois, ou não coloca nenhum.
Implicar
O verbo implicar possui duas transitividades com sentidos distintos.
VTD – Se considerarmos o VTD “Implicar”, será usado com o sentido de “causar”, ou ainda “acarretar”, como na frase: Suas atitudes implicam mudanças (sinônimo de “Suas atitudes causam mudanças”).
VTI – Já como VTI, seu sentido passa a ser “ter implicância com”, ou ainda “importunar” ou “ser importunado”. Note: Eu implico com minha mãe (sinônimo de “Eu tenho implicância com minha mãe”).
Assistir
O verbo assistir possui três transitividades e quatro sentidos distintos.
VTD – Sendo transitivo direto, assistir será sinônimo de “prestar assistência”, como em “O médico assistiu o paciente” (sinônimo de “ajudou”, ou “socorreu”).
VTI – Sendo transitivo indireto, assistir será sinônimo de “ver”, como na frase: Eu assisti ao jogo de futebol (“eu vi o jogo de futebol”). Construções típicas da oralidade como “Eu assisto a novela” seriam consideradas inadequadas, uma vez que, para dizer que se vê a novela, deve-se dizer “Eu assisto à novela”.
Um outro sentido possível é de “caber”, ou “pertencer”, como “Essa tarefa assiste a você” (sinônimo de “Essa tarefa pertence a você”), porém, é raramente utilizado.
VI – Um caso raríssimo de uso é quando significa “morar”. Tal uso é visto na frase “Eu assisto em Campinas”, sinônimo de “Eu moro em Campinas”. Note que, nesse caso, o verbo é intransitivo, uma vez que “em Campinas” é um adjunto adverbial de lugar, assim, não existe complemento verbal, tornando-o intransitivo.
Visar
O verbo visar possui duas transitividades e dois sentidos distintos.
VTD – Sendo transitivo direto, será sinônimo de “olhar para”, como em “O astrônomo visava as estrelas”, significando que ele estava olhando para elas.
VTI – Sendo transitivo indireto, será sinônimo de “aspirar”, ou “desejar”, como em “O estagiário visava a uma promoção”, significando que ele deseja uma promoção.
Aspirar
Semelhantemente ao verbo “visar”, o verbo aspirar possui duas transitividades e dois sentidos distintos.
VTD – Sendo transitivo direto, será sinônimo de “inalar”, ou ainda, “sugar”, como em “O homem do campo aspira ar mais puro”, significando que ele respira esse ar.
VTI – Sendo transitivo indireto, será sinônimo de “desejar”, como em “O estagiário aspirava a uma promoção”, significando que ele deseja uma promoção.
Entendido o conceito, gente? Não vão se esquecer dessas regrinhas, ok?
Qualquer coisa, entrem em contato. Um beijo no coração e até a próxima!
Ivan Perina, Professor de Língua Portuguesa, Graduando em Letras pela UNICAMP
Para ler mais, acesse: www.ivanperina.webnode.com