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Mudanças recentes no clima causadas pelo homem não têm precedentes, aponta relatório da ONU

09 de Agosto de 2021

Por Carolina Dantas / G1
Foto: Angelos Tzortzinis/AFP

Mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e levaram a um aumento de 1,07º na temperatura do planeta, aponta o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) publicado nesta segunda-feira (9).

É a primeira vez que o IPCC - um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) - quantifica a responsabilidade das ações humanas no aumento da temperatura na Terra.

"Muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, centenas de milhares de anos. Algumas das mudanças - como o aumento contínuo do nível do mar - são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de anos", aponta o relatório.

A conclusão é um dos pontos do documento nomeado "Climate Change 2021: The Physical Science Basis", que apresenta ainda os seguintes destaques:

  • Papel da influência humana no aquecimento do planeta é inequívoco e inquestionável;
     
  • Mudanças recentes no clima não têm precedentes ao longo de séculos e até milhares de anos;
     
  • Todas as regiões do globo já são afetadas por eventos extremos como ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropicais provocadas pelo aquecimento global;
     
  • Cada uma das últimas quatro décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer outra década que a precedeu desde 1850;
     
  • Temperatura vai continuar a subir até meados deste século em todos os cenários projetados para as emissões de gases de efeito estufa;
     
  • Aquecimento de 1,5°C a 2°C será ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa
     
  • Reduções fortes e sustentadas na emissão de dióxido de carbono (CO²) e outros gases de efeito estufa ainda podem limitar as mudanças climáticas;
     
  • Caso as reduções ocorram, ainda pode levar até 30 anos para que as temperaturas se estabilizem.

Os dados integram a primeira das três etapas do relatório do IPCC. As duas próximas publicações abordarão como lidar com o aquecimento e quais as estratégias para evitar um aumento ainda maior da temperatura.

No entanto, o texto desta segunda-feira deve ser o único divulgado antes da Conferência das Partes (COP26), prevista para novembro em Glasgow, na Escócia.


Meta de 1,5°C para barrar devastação

O relatório indica que o impacto da ação humana já está perto do limite de 1,5ºC de aumento da temperatura global que foi definido em 2015 durante a COP21, no Acordo de Paris. À época, os países presentes se comprometeram com algumas metas para conseguir barrar as mudanças do planeta, incluindo o Brasil, que diz querer atingir a neutralidade nas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2060.

A pesquisadora Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB) e uma das participantes do grupo de trabalho da terceira parte do relatório do IPCC, alerta que os dados exigem uma resposta urgente.

"1,07°C é a estimativa média entre 0,8ºC e 1,3ºC. O valor de 1,3ºC nos coloca bem próximos da meta de 1,5ºC do Acordo de Paris para 2100. Ou seja, a urgência é evidente para trabalhar nas causas do aquecimento", disse Bustamante.


A especialista diz que um ponto importante a destacar é que está mais quente "em sistemas terrestres (onde vive a população) do que nos oceanos, pois a água segura mais as variações de temperatura". A alta da temperatura total do planeta, com influência humana e com a variação do próprio sistema climático, é de 1,09ºC (variação de 0,95ºC a 1,20ºC).

Irrefutável

Nas primeiras páginas, o documento utiliza o adjetivo "inequívoca" para se referir à influência humana nas mudanças climáticas. A ciência já considera que as provas são irrefutáveis.

"É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra. Ocorreram mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera, no oceano, na criosfera e na biosfera" - IPCC

Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, explica que o documento "mudou a linguagem" e acrescentou esse grau de certeza, sem margem para "contestação".

"A gente não está mais discutindo se o homem foi um fator ou se é o um fator preponderante nas mudanças climáticas. Não se discute o 'se', mas o 'quanto'. É inequívoca a influência humana no clima da Terra e eles [IPCC] agora mostram quanto conseguem estimar em graus de temperatura", disse.
 

Perspectiva: 9 pontos do impacto

Abaixo, veja nove pontos do impacto do aumento da temperatura global na vida na Terra, segundo o relatório do IPCC:

  1. A temperatura da superfície terrestre subiu mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos visto nos últimos 2 mil anos;
     
  2. As ondas de calor se tornaram mais frequentes e mais intensas em quase todos os continentes do planeta desde 1950, enquanto frios extremos se tornaram menos frequentes e menos severos;
     
  3. Nas últimas 4 décadas, houve um aumento da proporção de ciclones tropicais;
     
  4. A influência humana aumentou a chance de eventos extremos desde 1950 e isso inclui a frequência da ocorrência de ondas de calor, secas em escala global, incidência de fogo e inundações.
     
  5. Em 2019, a concentração de CO² na atmosfera era maior do que em qualquer outro momento nos últimos 2 milhões de anos e a concentração de metano e óxido nitroso era a maior em 800 mil anos;
     
  6. As ondas de calor marítimas ficaram aproximadamente duas vezes mais frequentes desde 1980;
     
  7. Entre 2011 e 2020, a área média de gelo no Ártico atingiu seu número mais baixo desde pelo menos 1850 e era, no final do verão, menor do que em qualquer época nos últimos mil anos;
     
  8. O recuo das geleiras – com uma redução sincronizada em qualquer todas as geleiras do mundo desde os anos 50 — é sem precedentes pelo menos pelos últimos 2 mil anos;
     
  9. O nível médio do mar aumentou mais rápido desde 1900 do que em qualquer século em pelo menos nos últimos 3 mil anos.

Evidências compiladas pelo IPCC

O IPCC foi criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial com o objetivo de sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas.


Em 2007, o IPCC e o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore receberam o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho de difusão do conhecimento sobre o aquecimento climático e sobre as medidas necessárias para limitá-lo.


O Painel não produz pesquisa original, mas reúne, avalia e interpreta o conhecimento produzido por cientistas de alto nível - tanto os independentes quanto aqueles ligados a organizações e governos. O painel já produziu cinco grandes relatórios completos – o divulgado nesta segunda é uma parte do sexto.

O atual documento originalmente estava previsto para sair em abril, mas os trabalhos foram adiados pela pandemia de Covid-19. O texto tem 234 autores de 66 países; a pesquisadora Claudine Dereczynski, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é uma das colaboradoras.


Por Carolina Dantas / G1
Foto: Angelos Tzortzinis/AFP

Mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e levaram a um aumento de 1,07º na temperatura do planeta, aponta o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) publicado nesta segunda-feira (9).

É a primeira vez que o IPCC - um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) - quantifica a responsabilidade das ações humanas no aumento da temperatura na Terra.

"Muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, centenas de milhares de anos. Algumas das mudanças - como o aumento contínuo do nível do mar - são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de anos", aponta o relatório.

A conclusão é um dos pontos do documento nomeado "Climate Change 2021: The Physical Science Basis", que apresenta ainda os seguintes destaques:

  • Papel da influência humana no aquecimento do planeta é inequívoco e inquestionável;
     
  • Mudanças recentes no clima não têm precedentes ao longo de séculos e até milhares de anos;
     
  • Todas as regiões do globo já são afetadas por eventos extremos como ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropicais provocadas pelo aquecimento global;
     
  • Cada uma das últimas quatro décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer outra década que a precedeu desde 1850;
     
  • Temperatura vai continuar a subir até meados deste século em todos os cenários projetados para as emissões de gases de efeito estufa;
     
  • Aquecimento de 1,5°C a 2°C será ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa
     
  • Reduções fortes e sustentadas na emissão de dióxido de carbono (CO²) e outros gases de efeito estufa ainda podem limitar as mudanças climáticas;
     
  • Caso as reduções ocorram, ainda pode levar até 30 anos para que as temperaturas se estabilizem.

Os dados integram a primeira das três etapas do relatório do IPCC. As duas próximas publicações abordarão como lidar com o aquecimento e quais as estratégias para evitar um aumento ainda maior da temperatura.

No entanto, o texto desta segunda-feira deve ser o único divulgado antes da Conferência das Partes (COP26), prevista para novembro em Glasgow, na Escócia.


Meta de 1,5°C para barrar devastação

O relatório indica que o impacto da ação humana já está perto do limite de 1,5ºC de aumento da temperatura global que foi definido em 2015 durante a COP21, no Acordo de Paris. À época, os países presentes se comprometeram com algumas metas para conseguir barrar as mudanças do planeta, incluindo o Brasil, que diz querer atingir a neutralidade nas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2060.

A pesquisadora Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB) e uma das participantes do grupo de trabalho da terceira parte do relatório do IPCC, alerta que os dados exigem uma resposta urgente.

"1,07°C é a estimativa média entre 0,8ºC e 1,3ºC. O valor de 1,3ºC nos coloca bem próximos da meta de 1,5ºC do Acordo de Paris para 2100. Ou seja, a urgência é evidente para trabalhar nas causas do aquecimento", disse Bustamante.


A especialista diz que um ponto importante a destacar é que está mais quente "em sistemas terrestres (onde vive a população) do que nos oceanos, pois a água segura mais as variações de temperatura". A alta da temperatura total do planeta, com influência humana e com a variação do próprio sistema climático, é de 1,09ºC (variação de 0,95ºC a 1,20ºC).

Irrefutável

Nas primeiras páginas, o documento utiliza o adjetivo "inequívoca" para se referir à influência humana nas mudanças climáticas. A ciência já considera que as provas são irrefutáveis.

"É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra. Ocorreram mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera, no oceano, na criosfera e na biosfera" - IPCC

Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, explica que o documento "mudou a linguagem" e acrescentou esse grau de certeza, sem margem para "contestação".

"A gente não está mais discutindo se o homem foi um fator ou se é o um fator preponderante nas mudanças climáticas. Não se discute o 'se', mas o 'quanto'. É inequívoca a influência humana no clima da Terra e eles [IPCC] agora mostram quanto conseguem estimar em graus de temperatura", disse.
 

Perspectiva: 9 pontos do impacto

Abaixo, veja nove pontos do impacto do aumento da temperatura global na vida na Terra, segundo o relatório do IPCC:

  1. A temperatura da superfície terrestre subiu mais rapidamente desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos visto nos últimos 2 mil anos;
     
  2. As ondas de calor se tornaram mais frequentes e mais intensas em quase todos os continentes do planeta desde 1950, enquanto frios extremos se tornaram menos frequentes e menos severos;
     
  3. Nas últimas 4 décadas, houve um aumento da proporção de ciclones tropicais;
     
  4. A influência humana aumentou a chance de eventos extremos desde 1950 e isso inclui a frequência da ocorrência de ondas de calor, secas em escala global, incidência de fogo e inundações.
     
  5. Em 2019, a concentração de CO² na atmosfera era maior do que em qualquer outro momento nos últimos 2 milhões de anos e a concentração de metano e óxido nitroso era a maior em 800 mil anos;
     
  6. As ondas de calor marítimas ficaram aproximadamente duas vezes mais frequentes desde 1980;
     
  7. Entre 2011 e 2020, a área média de gelo no Ártico atingiu seu número mais baixo desde pelo menos 1850 e era, no final do verão, menor do que em qualquer época nos últimos mil anos;
     
  8. O recuo das geleiras – com uma redução sincronizada em qualquer todas as geleiras do mundo desde os anos 50 — é sem precedentes pelo menos pelos últimos 2 mil anos;
     
  9. O nível médio do mar aumentou mais rápido desde 1900 do que em qualquer século em pelo menos nos últimos 3 mil anos.

Evidências compiladas pelo IPCC

O IPCC foi criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial com o objetivo de sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas.


Em 2007, o IPCC e o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore receberam o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho de difusão do conhecimento sobre o aquecimento climático e sobre as medidas necessárias para limitá-lo.


O Painel não produz pesquisa original, mas reúne, avalia e interpreta o conhecimento produzido por cientistas de alto nível - tanto os independentes quanto aqueles ligados a organizações e governos. O painel já produziu cinco grandes relatórios completos – o divulgado nesta segunda é uma parte do sexto.

O atual documento originalmente estava previsto para sair em abril, mas os trabalhos foram adiados pela pandemia de Covid-19. O texto tem 234 autores de 66 países; a pesquisadora Claudine Dereczynski, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é uma das colaboradoras.