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Cortes de bolsas podem derrubar protagonismo da Unicamp

30 de Setembro de 2019

Por ACidadeON Campinas

Responsável por 12% de todas as teses de mestrado e doutorado nacionais e por 8% de toda a pesquisa produzida no País, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) terá seu protagonismo na ciência brasileira abalado pelos sucessivos cortes de bolsas de pós-graduação promovidos pelo governo federal.

Hoje, a universidade tem 2.861 pesquisadores que podem ficar sem vencimentos se não houver aporte ainda este ano no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

Além disso, há pelo menos 110 cientistas que correm o risco de ficar sem verbas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O órgão teve, desde o início de 2019, 11.811 bolsas cortadas pelo Ministério da Educação em todo país. A comunidade acadêmica da Unicamp está mobilizada contra a exclusão das vagas e enviou à Presidência, na segunda quinzena de setembro, uma moção contra os cortes dos recursos federais.

No entanto, a cúpula da instituição acha difícil a situação ser revertida e prevê que a produção científica na cidade deve cair consideravelmente no ano que vem.

No começo dessa semana o Conselho Universitário convocou uma assembleia extraordinária em defesa da ciência e educação que vai acontecer no próximo dia 15 de outubro.

Hoje, o CNPq, Capes e a Fapesp (de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) aportam cerca de R$ 12 milhões mensais para financiamento de bolsas a 4,8 mil estudantes de pós-graduação na Unicamp. O reitor Marcelo Knobel disse que é difícil dimensionar o impacto que os cortes terão na produção científica da universidade, mas que certamente ela deve cair rapidamente em rankings internacionais prestigiados, como a Times Higher Education.

"A Unicamp tem muita visibilidade internacional por sua pesquisa. Mas, para além dos rankings, perde o Brasil. Toda a população vai perder em inovação e tecnologia, que significa mais qualidade de vida. Um país que não investe em ciência não tem como desenvolver o seu futuro", explicou.

Fuga

A pesquisadora da Unicamp Katlin Massirer que coordena o Centro de Química Medicinal de Acesso Aberto, focado em desenvolvimento de fármacos em parcerias com indústrias nacionais, afirma que a preparação para conseguir as bolsas começa em janeiro, com os estudos e escolha das teses. Em setembro os alunos fazem as inscrições de projetos, para ver se conseguiram a bolsa apenas em novembro.

"Com essa insegurança em relação às verbas, muitos estão desistindo de fazer a pós-graduação com medo de não conseguirem pagar suas contas. Alguns já estão procurando instituições no exterior para desenvolver a pesquisa. Os cortes são um impulso para a fuga de cérebros do Brasil", contou.

Pesquisadores de mestrado ganham R$ 1,5 mil e, de doutorado, R$ 2,2 mil para terem dedicação exclusiva (40 horas semanais) à produção científica, valor abaixo de grande parte dos salários pagos por postos no mercado de trabalho para profissionais de curso superior. Além disso, Katlin disse que a falta de verbas dificulta projetos com empresas, essenciais para descoberta de novos medicamentos. "E temos estruturas complexas e equipamentos caros aqui na Unicamp que podem ficar ociosos e vazios sem pesquisadores", completou.

Jornada

O professor Gonçalo Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Expressão (LGE) do Instituto de Biologia da Unicamp, compara o ofício do pesquisador ao do médico, que leva quase uma década de investimentos, com graduação e residência, para conseguir obter resultados. "Com a pesquisa é a mesma coisa. O cientista tem um trabalho minucioso e leva muito conhecimento e tempo para obter resultados. Mas quando isso acontece, os ganhos são muito valiosos. Tudo que temos hoje, do celular ao carro flex, é fruto de muitos anos de pesquisa. Mas infelizmente a sociedade só vê a ponta do iceberg", disse.

A bióloga e doutoranda em Ecologia da Unicamp, Natália Danta Paes, disse que necessita da bolsa de R$ 2.200 do CNPq para continuar seus trabalhos. "Não existe a possibilidade de eu me manter sem a bolsa, porque minha carga horária de pesquisa é integral. Não tenho outra fonte de renda", ela afirmou que, com a incerteza de verbas para 2020, começou a elaborar um "plano B". "Meu objetivo era fazer pesquisa para o meu país, sempre foi o meu sonho. Mas agora eu volto para o mercado de trabalho ou eu faço pesquisa no exterior", completou. A doutoranda terminaria seu doutorado em 2021.

Assembleia

O Consu (Conselho Universitário) da Unicamp convocou a comunidade acadêmica para uma assembleia universitária extraordinária que será feita no próximo dia 15 de outubro, das 12h às 14h, no Ciclo Básico do campus de Campinas.

O objetivo é votar uma moção e conscientizar a sociedade contra a série de ataques sofridos pelas universidades e institutos de pesquisa, caracterizados principalmente pelos cortes de bolsas e ameaças à autonomia universitária.

É a primeira vez em 53 anos de história que a Unicamp convoca uma assembleia universitária extraordinária. A última vez que a comunidade promoveu um ato dessas proporções foi em 1981, para protestar contra a intervenção do governador Paulo Maluf no campus, ainda durante o regime militar. A tentativa do governo estadual de intervir na administração da universidade gerou uma onda de protestos que culminou com um grande encontro no Ciclo Básico. Pressionados, os interventores acabaram renunciando aos cargos.

"Dessa vez a ideia é mostrar a força e a união de toda a comunidade acadêmica em torno de uma causa comum", afirmou o reitor Marcelo Knobel antes de submeter a proposta de uma assembleia universitária extraordinária à votação dos conselheiros. "Precisamos reunir todas as entidades representativas da universidade para nos posicionarmos contra os ataques que estamos sofrendo e chamar a sociedade em defesa da ciência, da educação e da autonomia universitária no país", completou.

A proposta de promover uma assembleia universitária extraordinária começou a tomar corpo na reitoria a partir de uma iniciativa dos estudantes de graduação e pós-graduação, por meio de diversos centros acadêmicos, Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da Associação de Pós-Graduação (APG), que no mês passado protocolaram um documento pedindo a realização de uma assembleia extraordinária para discutir os ataques sofridos pelas universidades.

De acordo com o reitor, será formado um grupo de trabalho com representantes da comunidade universitária para organizar o ato. O texto da moção a ser apresentada durante a assembleia também será elaborado a partir da colaboração dos participantes do GT. A convocação de assembleia universitária extraordinária está prevista no artigo 163 do estatuto da Unicamp.

Por ACidadeON Campinas

Responsável por 12% de todas as teses de mestrado e doutorado nacionais e por 8% de toda a pesquisa produzida no País, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) terá seu protagonismo na ciência brasileira abalado pelos sucessivos cortes de bolsas de pós-graduação promovidos pelo governo federal.

Hoje, a universidade tem 2.861 pesquisadores que podem ficar sem vencimentos se não houver aporte ainda este ano no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

Além disso, há pelo menos 110 cientistas que correm o risco de ficar sem verbas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O órgão teve, desde o início de 2019, 11.811 bolsas cortadas pelo Ministério da Educação em todo país. A comunidade acadêmica da Unicamp está mobilizada contra a exclusão das vagas e enviou à Presidência, na segunda quinzena de setembro, uma moção contra os cortes dos recursos federais.

No entanto, a cúpula da instituição acha difícil a situação ser revertida e prevê que a produção científica na cidade deve cair consideravelmente no ano que vem.

No começo dessa semana o Conselho Universitário convocou uma assembleia extraordinária em defesa da ciência e educação que vai acontecer no próximo dia 15 de outubro.

Hoje, o CNPq, Capes e a Fapesp (de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) aportam cerca de R$ 12 milhões mensais para financiamento de bolsas a 4,8 mil estudantes de pós-graduação na Unicamp. O reitor Marcelo Knobel disse que é difícil dimensionar o impacto que os cortes terão na produção científica da universidade, mas que certamente ela deve cair rapidamente em rankings internacionais prestigiados, como a Times Higher Education.

"A Unicamp tem muita visibilidade internacional por sua pesquisa. Mas, para além dos rankings, perde o Brasil. Toda a população vai perder em inovação e tecnologia, que significa mais qualidade de vida. Um país que não investe em ciência não tem como desenvolver o seu futuro", explicou.

Fuga

A pesquisadora da Unicamp Katlin Massirer que coordena o Centro de Química Medicinal de Acesso Aberto, focado em desenvolvimento de fármacos em parcerias com indústrias nacionais, afirma que a preparação para conseguir as bolsas começa em janeiro, com os estudos e escolha das teses. Em setembro os alunos fazem as inscrições de projetos, para ver se conseguiram a bolsa apenas em novembro.

"Com essa insegurança em relação às verbas, muitos estão desistindo de fazer a pós-graduação com medo de não conseguirem pagar suas contas. Alguns já estão procurando instituições no exterior para desenvolver a pesquisa. Os cortes são um impulso para a fuga de cérebros do Brasil", contou.

Pesquisadores de mestrado ganham R$ 1,5 mil e, de doutorado, R$ 2,2 mil para terem dedicação exclusiva (40 horas semanais) à produção científica, valor abaixo de grande parte dos salários pagos por postos no mercado de trabalho para profissionais de curso superior. Além disso, Katlin disse que a falta de verbas dificulta projetos com empresas, essenciais para descoberta de novos medicamentos. "E temos estruturas complexas e equipamentos caros aqui na Unicamp que podem ficar ociosos e vazios sem pesquisadores", completou.

Jornada

O professor Gonçalo Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Expressão (LGE) do Instituto de Biologia da Unicamp, compara o ofício do pesquisador ao do médico, que leva quase uma década de investimentos, com graduação e residência, para conseguir obter resultados. "Com a pesquisa é a mesma coisa. O cientista tem um trabalho minucioso e leva muito conhecimento e tempo para obter resultados. Mas quando isso acontece, os ganhos são muito valiosos. Tudo que temos hoje, do celular ao carro flex, é fruto de muitos anos de pesquisa. Mas infelizmente a sociedade só vê a ponta do iceberg", disse.

A bióloga e doutoranda em Ecologia da Unicamp, Natália Danta Paes, disse que necessita da bolsa de R$ 2.200 do CNPq para continuar seus trabalhos. "Não existe a possibilidade de eu me manter sem a bolsa, porque minha carga horária de pesquisa é integral. Não tenho outra fonte de renda", ela afirmou que, com a incerteza de verbas para 2020, começou a elaborar um "plano B". "Meu objetivo era fazer pesquisa para o meu país, sempre foi o meu sonho. Mas agora eu volto para o mercado de trabalho ou eu faço pesquisa no exterior", completou. A doutoranda terminaria seu doutorado em 2021.

Assembleia

O Consu (Conselho Universitário) da Unicamp convocou a comunidade acadêmica para uma assembleia universitária extraordinária que será feita no próximo dia 15 de outubro, das 12h às 14h, no Ciclo Básico do campus de Campinas.

O objetivo é votar uma moção e conscientizar a sociedade contra a série de ataques sofridos pelas universidades e institutos de pesquisa, caracterizados principalmente pelos cortes de bolsas e ameaças à autonomia universitária.

É a primeira vez em 53 anos de história que a Unicamp convoca uma assembleia universitária extraordinária. A última vez que a comunidade promoveu um ato dessas proporções foi em 1981, para protestar contra a intervenção do governador Paulo Maluf no campus, ainda durante o regime militar. A tentativa do governo estadual de intervir na administração da universidade gerou uma onda de protestos que culminou com um grande encontro no Ciclo Básico. Pressionados, os interventores acabaram renunciando aos cargos.

"Dessa vez a ideia é mostrar a força e a união de toda a comunidade acadêmica em torno de uma causa comum", afirmou o reitor Marcelo Knobel antes de submeter a proposta de uma assembleia universitária extraordinária à votação dos conselheiros. "Precisamos reunir todas as entidades representativas da universidade para nos posicionarmos contra os ataques que estamos sofrendo e chamar a sociedade em defesa da ciência, da educação e da autonomia universitária no país", completou.

A proposta de promover uma assembleia universitária extraordinária começou a tomar corpo na reitoria a partir de uma iniciativa dos estudantes de graduação e pós-graduação, por meio de diversos centros acadêmicos, Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da Associação de Pós-Graduação (APG), que no mês passado protocolaram um documento pedindo a realização de uma assembleia extraordinária para discutir os ataques sofridos pelas universidades.

De acordo com o reitor, será formado um grupo de trabalho com representantes da comunidade universitária para organizar o ato. O texto da moção a ser apresentada durante a assembleia também será elaborado a partir da colaboração dos participantes do GT. A convocação de assembleia universitária extraordinária está prevista no artigo 163 do estatuto da Unicamp.