Como o Carnaval pode ser cobrado nos vestibulares e no Enem?

Como o Carnaval pode ser cobrado nos vestibulares e no Enem?

Foto: Arquivo / Oficina do Estudante

Dada a sua importância para a cultura brasileira, suas manifestações múltiplas e heterogêneas e seu enorme impacto econômico, o Carnaval é sempre uma possibilidade importante de tema nos vestibulares em geral e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A afirmação é da professora de Filosofia, História da Arte e Sociologia do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas (SP), Juliana Guide.

“O tipo de discussão que tem ocorrido a respeito não é normalmente incorporada de imediato por vestibulares como a Fuvest ou a Unesp. No entanto, em provas que têm tido maior presença de questões muito atuais, como as da Unicamp, as chances de abordar o Carnaval como tema se ampliam neste ano, dadas todas as polêmicas a respeito”, comenta.

→ Em quais disciplinas ou áreas o Carnaval pode ser cobrado nos principais vestibulares e no Enem? De que forma?

Juliana Guide: Os vestibulares e o Enem podem se debruçar sobre o tema em questões de Linguagens, Artes, Sociologia, Geografia, História, ou mesmo enquanto eixo transversal de reflexão interdisciplinar. É possível cobrar a festa como forma de expressão popular em que discursos políticos ou contra-hegemônicos se expressam, mobilizando exemplos como a crítica ao agronegócio no desfile da Imperatriz Leopoldinense “Xingu – o clamor que vem da floresta”, em 2017, ou marchinhas como “Daqui não saio” de Paquito e Romeu Gentil (1949), que fala do antigo e persistente problema de déficit habitacional brasileiro. Também é comum mobilizar o Carnaval como espaço em que se preservam manifestações de culturas tradicionalmente oprimidas no Brasil, como as indígenas e afro-brasileiras – os exemplos são inúmeros, mas cito a Noite dos Tambores silenciosos, em Recife e a saída do Ilê Aiyê, em Salvador. A interferência da ditadura do Estado Novo na organização das escolas de samba é tema tradicional dos vestibulares de História. Por fim, a profissionalização da festa e seu enorme impacto econômico podem levar a importantes discussões a respeito da indústria cultural, cultura popular, patrimônio imaterial, entre outros.

→ Qual relação (ou análise) pode ser cobrada, neste ano em específico, entre a festa (Carnaval) e a pandemia?

Juliana Guide: Há uma polêmica em curso. Em 2022, por conta do crescente contágio causado pela presença da variante Ômicron do COVID-19, as preocupações sanitárias com grandes aglomerações levaram diversos governos a cancelar os carnavais de rua e os desfiles de escolas de samba. No entanto, o mesmo princípio não foi aplicado a festas e shows privados, mesmo os que contarão com milhares de pessoas, por vezes até em locais fechados, que potencializam a transmissão do vírus. Em alguns casos, o carnaval de rua foi cancelado no final de dezembro de 2021, ao mesmo tempo em que continuaram acontecendo ao longo dos meses de janeiro e fevereiro enormes shows e festivais pagos de sertanejo, gospel, rock, hip hop, funk, música eletrônica, entre outros. Tal discrepância acabou por levantar uma pergunta: o cancelamento do carnaval de rua responde às necessidades sanitárias do momento, ou os governos foram norteados por outras questões neste caso? Há quem veja uma postura política e moral sendo determinante – diversos grupos religiosos cristãos, cada vez mais influentes, consideram o Carnaval o pior dos eventos profanos e pecaminosos, e portanto seriam extremamente favoráveis à sua supressão. Há também quem se pergunte: ao permitir grandes festas com ingressos caros no feriado, os governos estariam favorecendo uma espécie de “privatização” da maior festa popular do Brasil, excluindo dela os pobres e trabalhadores informais? Existe, por fim, quem afirme que nenhum dos eventos que ocorrerão se compara ao Carnaval de rua e aos desfiles de Escola de Samba em potencial de contágio, o que tornaria as decisões dos governos acertadas.

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