Síndrome do impostor: como fugir dessa cilada?
Síndrome do impostor: como fugir dessa cilada?
Por Júlia Firmino/ Runrun.it
O que é síndrome do impostor?
Trata-se de um sentimento dominante de:
– não sou bom o suficiente
– não estou a altura disso que está acontecendo em minha vida
E também derivados dessa sensação que podem afetar a sua vida.
Essa sensação constante é de que:
– todas as suas conquistas foram meramente acaso
– em algum momento alguém vai descobrir que você é uma fraude
– alguém vai te desmascarar
Isso pode acontecer por diversos motivos, como:
– questões sociais, referentes a classe,
– traços da sua criação familiar,
– questões econômicas, ligadas a desigualdade,
– alguma vivência, que pode ter resultado em um trauma,
– inseguranças
– cobrança em excesso
Entretanto, vale mencionar que a maioria dos estudos realizados por psicólogos aponta que as mulheres são mais afetadas por essa síndrome do que os homens.
Um exemplo disso é uma pesquisa realizada pela psicóloga Gail Mattewa, na Universidade Dominicana da Califórnia.
De acordo com a pesquisa, 70% dos profissionais bem-sucedidos apresentam esses sintomas, principalmente as mulheres.
É claro que todas essas possíveis causas que listamos acima podem aparecer combinadas, já que não se trata de uma questão isolada, mas sim algo que está presente no seu dia a dia.
Portanto, o intuito deste post é falar um pouco sobre a síndrome do impostor, de como ela pode:
– afetar a sua vida trabalho
– te dar dicas para lidar melhor com os efeitos
– evitar que ela te prejudique
1. Perder oportunidades
Geralmente, um dos momentos que podem fomentar a síndrome é quando as suas responsabilidades aumentam.
Entretanto, quando você acredita que tudo que você conquistou foi:
– fruto da sorte
– na realidade você não tem as habilidades necessárias para ocupar tais posições
você está deixando de aproveitar oportunidades!
Ou seja, o medo de ser, eventualmente, “desmascarado”, acaba por te paralisar, diante de um desafio e de uma exposição como essa.
2. Não saber dizer não
A princípio, essa relação pode não estar muito clara.
Entretanto, é só pensarmos que se você sofre com a síndrome do impostor, para que, em tese, ninguém descubra a sua fraude, você precisa estar sempre disponível e nunca recusar um pedido.
Do contrário, as outras pessoas podem achar que você realmente não sabe o que está fazendo.
Complexo, não é mesmo?
Pois nesse caso, ao invés de fazer uma administração do tempo e priorizar as suas demandas, você se coloca disponível para fazer tudo aquilo que os outros pedem.
E isso mesmo que não haja tempo hábil e que existam outras coisas de maior urgência que precisariam da sua atenção.
3. Comprometer a sua produtividade
Bom, agora fica claro como o item 2 pode interferir diretamente aqui, no tópico 3, quando falamos sobre produtividade.
Isso porque, além de se esforçar para cumprir as próprias demandas, você não sabe dizer não.
Você vai apenas adicionando itens ao seu checklist.
Com isso, vais se preocupando cada vez mais.
E, claro, tudo isso com um padrão de qualidade acima da média.
Para quê?
Para que ninguém note que você é uma fraude.
Ufa! Exaustivo, não?
Muita gente acaba confundindo produtividade com entregar cada vez mais.
Na realidade, ser produtivo é a capacidade de fazer mais coisas em menos tempo.
Dessa forma, esse padrão de trabalho que descrevemos acima é, de fato, uma bola de neve que vai acumulando resultados negativos ao longo do tempo.
4. Nunca se satisfazer com um resultado alcançado
É claro que ninguém gosta de entregar um trabalho mal feito, ou já sabendo que haverá retrabalho.
Entretanto, o ponto que queremos chamar atenção aqui é que pessoas que sofrem com a síndrome do impostor raramente ficam felizes.
Ou mesmo satisfeitas, com os resultados que foram alcançados.
Dessa forma, ao finalizar um trabalho, sempre fica aquela sensação de:
– poderia ter feito melhor
– não sou bom o suficiente
– deixei de fazer várias coisas nesse projeto
Não ser capaz de celebrar pequenas conquistas pode prejudicar a sua:
– autoestima
– capacidade crítica de avaliar se um trabalho é realmente bom ou se ele ainda precisa de ajustes
5. Esgotamento mental ou burnout
Todas as consequências que mencionamos acima culminam em um ponto que não é interessante de nenhum ponto de vista.
O esgotamento mental, ou burnout, pode acontecer por vários motivos.
Ele já afeta cerca de 30% dos brasileiros e pode ser ainda mais severo nos casos em que as pessoas gostam do que fazem.
Isso porque, para realizá-los, elas estão dispostas a enfrentar condições precárias.
Ou seja:
– todo esforço
– trabalho em excesso
– falta de reconhecimento dos próprios resultados alcançados
podem levar a um nível de estresse profundo, e real esgotamento de energias, e da criatividade, e vontade de trabalhar.
5 perfis psicológicos de síndrome do impostor
A especialista em síndrome do impostor, Valerie Young, em seu livro “The Secret Thoughts of Successful Women: Why Capable People Suffer from the Impostor Syndrome and How to Thrive in Spite of It, categoriza 5 subgrupos com características padrão de pessoas que sofrem com o sentimento de “ser um (a) impostor (a)”.
Antes de falarmos um pouco mais especificamente sobre eles, é importante deixar clara uma observação, também feita por Valerie neste artigo da FastCompany:
a síndrome do impostor está relacionada a uma posição fora da zona de conforto.
Ou seja, se uma pessoa ocupa um cargo confortável e desempenha funções confortáveis para ela, então não existe confronto.
Nem existe também a necessidade de se provar cada vez melhor a função que ela desempenha.
Assim sendo, também não existe o sentimento de fraude.
Quando somos tirados da nossa zona de conforto é que as nossas inseguranças têm mais chance de aflorar.
Além disso, de evoluírem para síndrome do impostor, fazendo com que deixemos de acreditar em nosso potencial.
1. O perfeccionista
Para os perfeccionistas, o trabalho deve ser 100% perfeito, o tempo todo.
Não há espaços para erros.
Por isso, as expectativas para os resultados acabam sendo tão altas que se tornam irreais.
E, nenhuma conquista é digna o suficiente de ser celebrada.
Além disso, eles possuem dificuldades para delegar tarefas.
E, mesmo quando podem fazer isso, não o fazem.
Por quê?
Porque acreditam no lema “quer bem feito? então faça você mesmo”.
Entretanto, as consequências desse tipo de atitude são altos níveis de:
– estresse
– burnout
– queda da autoconfiança
uma vez já que o trabalho que ele mesmo desempenha nunca é bom o bastante.
2. O super-homem ou a supermulher
Nesse casos, pessoas que estão nesse subgrupo podem ser consideradas “workaholics”.
Acreditam que qualquer tempo não dedicado ao trabalho é uma perda.
Fazem incontáveis horas extras.
E se esforçam para mostrar que estão produzindo, na tentativa de provar que são dignos da posição ou do cargo que conquistaram.
Eles buscam a validação do trabalho através de outros.
E não conseguem medir por si mesmos o impacto de suas ações.
Ou seja, o que os atrai no trabalho não é o prazer de realizá-lo em si.
Mas, o reconhecimento que vem de outras pessoas, enquanto tentam fazer de tudo para provar que não são farsas.
3. O gênio ou a criança prodígio
Nesse caso, estamos lidando com pessoas que possuem expectativas tão altas quanto os perfeccionistas.
Porém, medem a própria competência baseada no quão rápido:
– podem aprender algo
– conseguem acertar algo de primeira
Caso isso não ocorra, o sentimento de vergonha faz com que deixem de tentar algo pela primeira vez.
Isso pois acreditam que não serão bons naquilo e porque não querem admitir a “derrota”.
4. O solitário
Realizar seu trabalho de forma independente é muito importante para que você:
– ganhe confiança em si mesmo
– entenda o quanto as suas habilidades foram desenvolvidas
– veja o quanto ainda precisa aprender
Entretanto, estamos falando de um subgrupo que se recusa a pedir ajuda.
Isso porque acredita que:
– deve provar o seu valor sozinho
– o envolvimento de outros pode exibir uma fraqueza dele
5. O especialista
Neste subgrupo, os especialistas medem valor baseados no que e no quanto eles sabem sobre algum assunto.
Vivem constantemente com o medo de serem expostos como inexperientes, ou com conhecimento insuficiente.
Ou seja, apesar de estarem sempre buscando aperfeiçoamento e mais informações, nunca é o suficiente.
E não saber algo pode ser considerado uma quebra, que culmina no sentimento de impostor.
5 dicas para superar a síndrome do impostor
Se você se identificou com as características dos subgrupos listados acima e a sua vontade lendo esse post é sair correndo e se descabelando, fique calmo!
Agora, vamos trazer 5 dicas para que você possa começar a superá-la.
1. Fale sobre o assunto
Muitas vezes, os assuntos ficam girando em nossa cabeça, virando uma verdadeira paranoia.
E, ao invés de procurarmos os familiares, amigos, ou até mesmo um profissional, guardamos tudo para nós.
E ficamos com o sentimento de que aquilo acontece única e exclusivamente conosco.
Portanto, a troca de experiências e angústias pode ajudar a entender que o colega que trabalha ao seu lado pode estar passando pela mesma coisa que você e que vocês podem se ajudar nesse processo.
2. Reconheça pequenas vitórias
Na maioria dos subgrupos traçados por Valerie Young, nos deparamos com uma característica em comum:
a dificuldade de comemorar pequenas conquistas.
Agora, esse ato pode até parecer banal.
Entretanto, essas celebrações são fundamentais para a nossa autoconfiança e para a nossa capacidade de conseguir olhar para um projeto que completamos no trabalho dizendo:
– eu fiz um bom trabalho
– eu mereço tudo que conquistei
3. Desconstrua a ideia de perfeição
Talvez uma das dicas mais complexas seja essa, de desconstruir o ideal de perfeição, quando estamos cercados por ela na televisão e nas redes sociais.
Porém, difícil não significa impossível.
Algo prático que você pode adotar para a sua vida é seguir pessoas e acompanhar conteúdos de entretenimento feitos por quem você se identifica ou se inspira.
Ou seja, se o seu sonho é ser CEO de uma empresa, comece a seguir as pessoas que:
– falem sobre isso
– dão dicas
– compartilham experiências de modo saudável
4. Não se compare com outros colega
Uma injustiça que praticamos com nós mesmos é nos comparar com outras pessoas.
Isso porque cada ser humano possui vivência, histórico familiar, habilidades e competências únicas, que foram desenvolvidas ao longo da vida.
Por isso, ao invés de se comparar e lamentar pelas qualidades que um colega seu tem e você não, procure aprender com ele.
Existem algumas empresas que, inclusive, adotam alguns programas, como o de mentoria reversa para fomentar o aprendizado no trabalho, melhorando a autoestima e a produtividade dos colaboradores.
5. Reconheça a importância dos feedbacks
Por vezes, consideramos feedbacks injustos, ou mesmo levamos as críticas para o lado pessoal e deixamos que as palavras ditas por alguém que nos avalia nos consumam e afetem a nossa produtividade.
Esse comportamento, além de não ser saudável, a longo prazo pode ser prejudicial.
É nocivo já que você não consegue filtrar aquilo que é dito.
Sem esses feedbacks, não muda comportamentos ruins e afetam a sua vida.
Portanto, se recebeu um feedback positivo, celebre a sua conquista.
Se recebeu uma crítica, não ache que é o fim do mundo.
Saiba que é uma oportunidade de aprimoramento.
Leia mais
Atividades culturais acadêmicas: a importância para o aprendizado
Estudar melhor: hábitos que você precisa abandonar
Deixe uma resposta