Jovem cubana conhece Unicamp em livros didáticos e vem para o Brasil em busca do sonho de fazer Medicina na universidade
Há quatro anos, Márcia de las Mercedes Maure Beatón, estudante do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas (SP), de 18 anos, veio com a mãe de Cuba para o Brasil, após aceitar o convite de um de seus avós, motivada por melhores condições de vida e pelo sonho de fazer Medicina na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), instituição de ensino que conheceu em um livro de Matemática utilizado, na época, pelos alunos do 8º ano na ilha caribenha.
“Desde menina, o meu propósito sempre foi fazer Medicina. A Unicamp apareceu como referência no meu material didático, ouvi falar muito dela, vi muitas notícias e percebi que era uma universidade conhecida mundialmente, que se destaca também pela parte da pesquisa. Ai, nasceu uma paixão para estudar lá”, revelou.
Apesar do anseio e curiosidade por tudo que envolve a Unicamp, Márcia disse que não foi à universidade logo que chegou ao Brasil. No segundo ano aqui, a tão esperada visita aconteceu. Na ocasião, para assistir uma palestra sobre Medicina. O contato aflorou ainda mais o desejo de ser aprovada no vestibular.
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→“O que é vestibular?”
A jovem cubana comentou que foi conhecer o que é vestibular aqui, pois em sua terra natal existe apenas um exame unificado em nível nacional, o qual comparou com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “É mais fácil entrar na universidade lá. Aqui é bastante difícil, Por isso é importante fazer cursinho”, afirmou. Contudo, como planejava vir para o Brasil, analisa que o ideal era fazer o Ensino Superior aqui.
Nesse contexto, Márcia destaca que a educação de Cuba é de boa qualidade. “Lá todas as escolas são públicas, de período integral, com aulas das 7h às 16h30. Fora isso, o tempo restante é também empregado para estudar, porque quase todos os dias tem provas ou testes e não aplicam exames objetivos: tudo é dissertativo”, revela.
A estudante, entretanto, opina que o Brasil dispõe de mais recursos tecnológicos. “Se bem me lembro, não faz muito tempo que a internet chegou às casas por lá. Quando eu ainda estava lá, não existia, porque o custo era muito alto. Havia pontos de internet pela cidade, onde todos se reuniam. Era preciso comprar dados e não durava um mês. Nós, alunos, precisávamos ir até as bibliotecas para estudar com enciclopédias para conseguir as informações para as pesquisas. Avançamos lá, mas ainda há muito a se melhorar. A questão da falta de recursos tecnológicos se estende à área da saúde também.”
Esse cenário, inclusive, retardou um sonho de criança da estudante: conhecer uma feira de ciências. “No meu país não tem porque o governo não tem recursos suficientes para custear esse tipo de evento. Fui viver essa experiência aqui, no Brasil, em um visita à Feira de Ciências e Engenharia (Febrace), que, na oportunidade, ocorreu na Universidade de São Paulo (USP). Conheci várias áreas de projeto, ampliei meus conhecimentos e isso foi muito gratificante para mim.”, falou.
A experiência incentivou a cubana a fazer um projeto de iniciação científica, desenvolvendo, em parceria com colegas e orientação dos professores da escola estadual em que estuda, uma escova de dente biodegradável. “Ela consiste em substituir o polipropileno das escovas dentais por um compósito de bagaços de cana de açúcar e resina poliuretano derivada de óleo de mamona. Assim, esperamos contribuir com o Meio Ambiente”, explicou.
→A vinda para o Brasil
Márcia garante que sempre sonhou com o Brasil. A princípio, considerava realizar uma missão aqui, já formada e por intermédio do então existente Programa Mais Médicos. Porém, a mudança para cá se deu por meio de um avô, engenheiro mecânico, com longo histórico de viagens profissionais para cá para tocar projetos e também atuar como professor universitário, que havia se mudado em definitivo.
Atualmente, pontua, ele é casado com uma brasileira, a exemplo da sua mãe, que também se casou aqui, enraizando de vez a família. O companheiro da mãe, enfatiza, “se tornou um verdadeiro pai”.
Enquanto mãe e filha corriam atrás da documentação para vir para o Brasil, Márcia diz que começou a aprender a nossa língua. “Eu estudei somente a fonética. Em Cuba, as aulas eram em período integral. Todo tempo livre que eu tinha, dedicava a ouvir áudios em português, ainda que não entendesse o significado das palavras. Mas, quanto mais eu escutava, mais ficava compreensível”, disse.
Depois de chegar em 5 agosto de 2017, no Brasil, teve outros seis meses até iniciar as aulas do 9º ano do Ensino Fundamental II. No período, assegura ter aprendido o português falado. Em seguida, se aplicou na parte escrita.
“Consegui decorar o hino nacional do Brasil. Agora, sei dois hinos nacionais, o que é muito gratificante e me deixa muito feliz”.
→Mesmo agito, mas sem furacão
Residindo no Jardim Nova Europa, em Campinas, Márcia afirma que gostou muito da metrópole do interior do Estado de São Paulo porque lembra muito Santiago de Cuba, município onde morava, com mais de 400 mil habitantes, que é capital de uma província. Compara que as localidades têm a mesma dinâmica agitada.
Todavia, celebra o clima daqui, ao rememorar que, em 2012, um furacão levou parte da casa em que morava. “Antes do furacão, todas as casas eram de madeira – moradias antigas e coloniais. Depois, o governo ajudou na reconstrução da cidade, das casas, melhorando e deixando Santiago de Cuba ainda mais linda”, ressaltou.
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→Orientação até quando foi assaltada…
Coordenador estratégico e professor de Física do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante de Campinas (SP), Anderson Bigon, popularmente chamado de “Bill” pelos alunos, pondera que a Unicamp atrai estudantes de diversos estados do País para se prepararem em Campinas, e também, como neste caso, alguns estrangeiros. Afirma que esses vestibulandos procuram a Oficina por ser referência devido ao seu alto índice de aprovação.
“No caso da Márcia, nosso acompanhamento e orientação pedagógica transcendeu à normalidade, sendo ainda mais minucioso, visando acolhê-la da melhor forma possível. É curioso falar, porém, teve uma vez que ela foi assaltada e não sabia como proceder. Aí, orientamos ela sobre ir à delegacia para registrar o Boletim de Ocorrência (B.O.) e o que mais precisou”, disse.
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→Ambientada, cubana está confiante na aprovação
Márcia assegura que está ambientada, que foi acolhida pelos brasileiros e que está muito feliz com as oportunidades que tem aqui, de estudar numa escola boa, fazer curso pré-vestibular e, se tudo sair como planejado, uma ótima universidade.
“Ano passado, quando fui fazer o Enem, até por ser minha primeira vez, não me sentia preparada. Estava insegura, nervosa na hora da prova, não conseguia me concentrar, principalmente para fazer a redação. Era um modelo diferente de tudo o que eu estava acostumada. Hoje, por meio do cursinho, os conteúdos ficaram mais compreensíveis e os simulados me familiarizaram com o formato da prova, condição que, aliada a confiança no meu potencial e ao esforço que empreguei nos estudos até agora, me fazem acreditar, com ajuda de Deus também, que serei aprovada. Vou emocionada para o vestibular.”, frisa.
Deste modo, poderá ser médica, profissão que escolheu não somente pelo retorno financeiro que pode lhe dar. Mas, também, por crer é um caminho para ajudar o próximo, a sociedade, o país que a acolheu e onde quer passar o resto da sua vida.
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