Fuvest 2019: veja a prova de português e redação da segunda fase

Fuvest 2019: veja a prova de português e redação da segunda fase

Por G1SP — São Paulo

06/01/2019

 

A Fuvest iniciou, às 13h deste domingo (6), a aplicação da segunda fase do vestibular 2019. A prova incluiu dez questões de português, além de redação (veja abaixo). Cada uma das duas vale um total de 50 pontos. São 35.371 candidatos – incluindo 3.193 treineiros –, quantidade 62,3% maior do que em 2018.

A prova de redação da Fuvest 2019 abordou o tema “A importância do passado para a compreensão do presente”. De acordo com os candidatos que deixavam o local de provas, os textos de apoio demonstravam a importância do trabalho de historiadores.

“Com os debates travados em 2018 a respeito do incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, não dá para encarar o tema proposto pela Fuvest 2019 como uma completa surpresa”, comentou a coordenadora de redação do Curso Poliedro, Vivian Cintra. “Ao questionar ‘a importância do passado para a compreensão do presente’, a banca suscita, entre outros vieses, uma reflexão sobre o papel da memória para a sociedade.”

Para a professora, o tema “nos remete a outra proposta de redação já cobrada pela Fuvest, em 2010, sobre o processo de construção de imagens”. “Espera-se que o aluno, portanto, não discorra apenas sobre o passado ou somente sobre o presente, mas que considere a relevância de um para o outro, de modo analítico, posicionando-se sem fazer julgamentos morais.”

Já a prova de português exigiu conhecimento em figuras de linguagem, discurso direto e indireto e interpretação de texto.

A parte de literatura teve uma questão comparando os livros “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Vida de Menina”. A pergunta comparava a descrição que Brás Cubas faz dos pais com a descrição que Helena (personagem de Vida de Menina) faz dos pais dela comparando a visão dos personagens dentro de uma perspectiva de patriarcado e matriarcado. O pai de Brás Cubas é “Deus na terra” para o narrador, enquanto Helena tem a mãe como “Nossa Senhora na Terra”.

O candidato foi convidado a redigir uma dissertação em prosa sobre o tema “De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente”, valendo-se para isso de coletânea formada por cinco textos de apoio.

A professora Viviani Xanthakos, do Colégio e Curso Objetivo, disse que a prova exigiu conhecimento pragmático do candidato. “Além do conhecimento pragmático, que é transmitido através dos tempos, o aprimoramento cultural e moral também estaria atrelado ao aprendizado dos fatos pregressos. Outra abordagem possível seria a ausência de políticas públicas para preservação do patrimônio histórico nacional, como monumentos, instituições e museus.”

Ainda segundo Viviani, “o vestibulando deveria selecionar argumentos em defesa de sua tese, necessariamente argumentando sobre a importância da conservação e da valorização da história para a formação do homem, pois a humanidade é resultado dos processos históricos do passado, seja no que tange à ciência, à tecnologia, às humanidades.”

Para Célio Tasinafo, diretor pedagógico da Oficina do Estudante, foi “uma prova atual, fincada em temas e mesmo polêmicas do presente, mas que não deixou de cobrar conteúdos tradicionais importantes. Ou, dito de outra maneira, uma prova que valorizou o estudante que possuía grande habilidade de leitura e visão crítica apurada sobre o momento histórico em que vive, mas que também tinha conhecimento formal de gramática e literatura.”

Segundo Célio, a prova foi teve “elevado nível”, foi “muito bem elaborada” e exigiu do candidato “um domínio de vocabulário bastante amplo, a capacidade do estudante de trabalhar com diferentes registros linguísticos: quadrinhos, propaganda, música, textos acadêmicos, publicações jornalísticas informativas, poesia e prosa.”

O coordenador mencionou a cobrança sobre as funções e sentidos desempenhados pela palavra “bem” na questão 3. “Foi feita a partir de dois textos publicados em 2018 e um meme – ou seja, a questão exigia conhecimento semântico de um termo da oração a partir de registros bastante atuais.”

Célio disse que as questões de literatura seguiram tradição de anos anteriores, explorando “em profundidade aspectos das obras de leitura obrigatória, exigindo bem mais que o simples conhecimento sobre o enredo dos livros. Tal exigência foi feita ainda a partir da comparação de fragmentos de diferentes obras (como exemplo, podemos citar a questão 10, com um trecho de Sagarana comparado a um dos poemas da obra Claro Enigma de Carlos Drummond de Andrade).”

Sobre a redação, Célio afirmou que o tema exigiu reflexão apurada. “Com uma coletânea de textos bem variada (poema de Drummond, escultura de Flávio Cerqueira, texto de Viveiros de Castro e outro de Walter Benjamin), o tema relativo à maneira como o passado contribui para a compreensão do presente poderia ter sido tratado tanto do ponto de vista da importância da memória coletiva quanto a partir da importância do passado e da história para a construção da identidade individual. ”

O professor de redação do Anglo, Eduardo Antonio Lopes, disse que o tema proposto foi relevante e atual. “Permite variados graus de aprofundamento e de criticidade revelando a maturidade do aluno. Sobretudo, coloca em questão a habilidade de leitura que ele tem, porque, para desenvolver uma dissertação que fosse além de uma visão do senso comum, ele precisaria tirar bom proveito dos textos presentes na coletânea.”

Para ele, o tema da redação foi democrático e não deixou o “aluno com a impressão de que ele não tem nada a dizer. Todo mundo tem uma opinião sobre como o passado contribui para a compreensão do presente. Não é algo enigmático, complexo, ou que exija uma informação específica, mas, em compensação, não é tão simples desenvolver um texto de 30 linhas que saia do senso comum. Então todos têm o que escrever, mas é algo que se estingue em 10 linhas. O desafio era não ficar na redundância e conseguir ir além. Também por isso, a leitura da coletânea era tão relevante.”

Ele afirmou ainda que “é um tema que está dentro do formato geral adotado pela Fuvest, de cunho mais filosófico, mais abstrato, mas que, ao mesmo tempo, não está além da vivência e do repertório comum de qualquer aluno que esteja concluindo o ensino médio. Além disso, é um tema que ganha relevância no mundo contemporâneo, pois a gente percebe que há uma série de iniciativas que sugerem um desconhecimento a respeito de eventos tão deletérios do passado.”

A primeira lista de aprovados para o vestibular da USP será divulgada dia 24 de janeiro.

A USP está disponibilizando no vestibular Fuvest 8.362 vagas divididas por modalidades de Ampla Concorrência, Escola Pública e Escola Pública PPI (autodeclarados pretos, pardos e indígenas).

Compartilhe esse Post

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *