1º de maio: Dia da Literatura Brasileira
“Ainda que o senso comum insista em apontar o contrário – de modo a ressaltar um nefasto desinteresse geracional pela leitura de grandes obras –, vejo um interesse crescente dos jovens quando o debate é bem direcionado nas aulas. Em outras palavras, o jovem tende a se interessar por discussões e reflexões que façam sentido para sua realidade e sua subjetividade.” O comentário é do professor de Literatura do Colégio Oficina do Estudante, André Barbosa, que leciona há 19 anos e vai nos contar mais sobre a história da arte literária no Brasil.
Em um contexto no qual a leitura escolar de clássicos é frequentemente questionada, o professor destaca a importância de autores canônicos, como Machado de Assis: “Sua obra concentra múltiplas possibilidades de interpretação, já que os contos e romances do mestre adentram os cantos mais obscuros da alma humana”. Como comprovam as diversas leituras possíveis de obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, a ficção machadiana transcende o ensino formal e convida o leitor a uma jornada profunda pela complexa natureza humana.
Quanto à delimitação de escolas ou estilos literários, de acordo com André, não haveria como apontar momentos principais e secundários, dada a carga de subjetividade e a complexidade própria desse tipo de escolha. “No entanto, não podemos ignorar certos nomes de grande êxito e reconhecimento acadêmico, escolar e popular (não necessariamente de modo simultâneo), os quais aparecem regularmente nos livros didáticos e compêndios de história literária.”
Ele começa com um rol de autores do período colonial, como os barrocos Gregório de Matos e Antônio Vieira (século XVII) e o árcade Tomás Antônio Gonzaga (século XVIII). Na era nacional da literatura brasileira, além da prosa de Alencar, o professor destaca notáveis poetas românticos, como Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves (século XIX). André ainda cita autores situados historicamente na transição dos séculos XIX e XX, como o poeta parnasiano Olavo Bilac e o simbolista Cruz e Sousa. Na mesma época, entre os autores de ficção, o professor volta a destacar Machado de Assis: “De todos os autores do final do século XIX, Machado, cuja obra de ficção é majoritariamente compreendida sob a escola realista, atingiu uma notoriedade ímpar”.
Já sob o arco do Modernismo (século XX), em todas as suas gerações, haveria uma infinidade de autores, sendo canônicas, entre outras, as obras de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, entre outros.
Livro físico ou digital: por que não os dois?
O apelo sensorial do livro físico e a praticidade dos livros digitais podem ser explorados em conjunto, já que não há oposição entre as duas mídias: há, na verdade, uma simples questão de disponibilidade e preferência. “Algumas pessoas, como eu, são entusiastas do livro tradicional, enquanto outras aderiram aos e-books. O que importa realmente é a bela e complexa integração entre o leitor e a obra.”
André aproveita para falar sobre a tecnologia na educação e de como vê esse futuro no ambiente escolar. “Em essência, a prática docente não pode abrir da relação humana, sem dependência do meio: não importa se a mídia assumir uma natureza de ares modernos, como lousa eletrônica e tablet, ou figurar num antigo quadro negro e no auxílio de pesados volumes. Um bom professor e um grupo de alunos dedicados continuam sendo os núcleos imprescindíveis do ato de ensinar.”
Obras obrigatórias dos vestibulares 2025: USP e Unicamp apostam na diversidade
A cada ano, a seleção de obras obrigatórias para os vestibulares das principais universidades brasileiras gera grande expectativa entre os estudantes. Para os exames de 2025, Fuvest e Unicamp não decepcionaram, apostando na diversidade de autores, épocas e gêneros literários.
Na Fuvest, mais da metade das obras são de autores brasileiros, como os onipresentes Machado e Drummond, clássicos que dividem espaço com nomes menos conhecidos, como Ruth Guimarães. “A escolha de Água Funda, romance de Ruth Guimarães, exemplifica a visibilidade concedida a ótimos autores que ainda não alcançaram o merecido reconhecimento popular, além de despertar o interesse do público jovem por obras negligenciadas nos livros de história literária.”
A Unicamp, por sua vez, destaca-se pela variedade de gêneros, incluindo até mesmo a música, com a presença de canções de Cartola na lista de obras obrigatórias. Além disso, a universidade demonstra um grande interesse pela literatura contemporânea, com autores como Conceição Evaristo e Ailton Krenak. “Essa diversidade exige uma mudança no foco das aulas de literatura no Ensino Médio e nos cursos pré-vestibulares, que devem se atualizar para incluir autores antes ignorados pelos vestibulares.”
Para saber quais são as obras obrigatórias da USP e Unicamp, acesse o site da Oficina do Estudante. A Unesp, por sua vez, não possui uma lista específica de obras, mas recomenda o estudo das questões das provas anteriores.
Por que 1º de maio é o Dia da Literatura Brasileira?
A data foi criada para homenagear o prosador cearense José de Alencar (1829-1877). O professor André explica que Alencar – com justiça – foi escolhido como o autor simbólico deste dia comemorativo; afinal, podemos defini-lo como uma espécie de fundador de uma literatura genuinamente brasileira, já que, didaticamente, sua obra é compreendida sob o estilo romântico (século XIX), um contexto caracterizado fortemente por expressões de nativismo e nacionalismo. “Sob tais circunstâncias, em que o Brasil acabava de se converter em nação independente, era necessário que a arte em geral – e a literatura em particular – se mostrasse engajada na exaltação das origens nacionais e na descrição de aspectos pitorescos, regionais e históricos. Fazia-se necessária uma abordagem literária dos traços constitutivos de uma nacionalidade nascente e em ascensão.”
André finaliza dizendo que, com romances como O guarani, Iracema, Til, O tronco do ipê e Senhora, Alencar se posicionou como porta-voz da jovem literatura de uma jovem nação, que tentava encontrar orgulhosamente, de maneira romântica, a expressão verbal de sua cultura.
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