Cem anos da Semana de Arte Moderna: renascença paulista ou delírio coletivo?
Arte: Guilherme Castro/Jornal da USP
Nas primeiras décadas do século XX, um pequeno grupo de escritores e artistas, liderado por Oswald de Andrade e Mário de Andrade, unia-se pelo sentimento incômodo de estagnação artística. Para eles, a arte brasileira não passava de uma “cópia sem coragem e sem talento” presa às influências da cultura ocidental. Se por um lado havia uma inclinação aos impulsos de modernização provenientes da Europa e das vanguardas europeias, por outro havia o desejo de autenticidade. Por isso, os chamados modernistas mostravam-se dispostos a não mais imitar as artes francesas, italianas e portuguesas, com o propósito de construir um perfil cultural norteador da identidade nacional e, assim, atualizar a arte brasileira.
Nesse contexto, equivoca-se quem compreende a Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, como o fato mais importante do Modernismo. Esse evento, que completa 100 anos em fevereiro de 2022, não inaugurou o movimento, ele apenas anunciou, como faz um coquetel ou uma festa de apresentação, o início da construção de uma nova mentalidade, fundamentada na renovação da linguagem artística. Os primeiros modernistas, por meio da apresentação de seus trabalhos, além de evidenciar o desejo de modificar o padrão estético em vigor, encontraram no evento uma oportunidade adequada para comemorar os cem anos da Independência política do Brasil.
A repercussão imediata do evento foi significativa e controversa: de um lado, a cobertura jornalística evidenciava o entusiasmo do grupo modernista que sonhava com a “iminente renascença paulista”. De outro, as manchetes expunham a condenação absoluta ao “delírio coletivo”. Em uma época na qual imperava o parnasianismo e o seu culto à forma – “Minha pena/ Segue esta norma,/ Por te servir, Deusa serena/, Serena Forma!” -, as discussões e provocações subsequentes muitas vezes nem sequer se relacionavam à arte moderna.
Apesar disso, o movimento moderno, ao longo dos anos, foi fundamental para a ruptura com o passado academicista e para a renovação intelectual e artística brasileira.
Diante da relevância do Modernismo para a trajetória artística brasileira, esse assunto, vinculado ao centenário da Semana de Arte Moderna de 22, é uma grande aposta para as questões de vestibular em 2022. Portanto, mostra-se importante compreender a Semana como a primeira face pública do movimento moderno brasileiro. Naquele momento, apesar da repercussão negativa, um interesse pela vida intelectual foi despertado em São Paulo e, posteriormente, em grande parte do país. Além disso, é importante atentar-se às vanguardas europeias, sempre cobradas pelo ENEM, e aos movimentos culturais brasileiros influenciados pelo Modernismo, como o Tropicalismo da década de 60. Em relação aos temas de redação, nos últimos anos, não tem sido comum o aparecimento de eventos históricos em virtude das comemorações de centenário ou bicentenário. No entanto, é possível que temas relacionados à arte ou à Independência sejam solicitados.
Por Jéssica Vasconcelos Dorta, professora de Redação do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas (SP)
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