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René Descartes

11 de Fevereiro de 2020

Por Francisco Porfírio
Mundo Educação/ UOL 

O pensamento do francês René Descartes destaca-se na Modernidade. O primeiro racionalista moderno defendeu que o conhecimento era inato ao ser humano e propôs um método dedutivo como ponto inicial de qualquer conhecimento que se pretenda verdadeiro, claro e distinto. 

Exímio matemático, suas contribuições para as ciências exatas foram essenciais para o maior desenvolvimento da geometria analítica, por meio do plano de coordenadas cartesiano, e a física moderna também contou com significativas contribuições do filósofo.

Biografia de René Descartes
Nascido na província de Haye, em 1596, Descartes ficou órfão de mãe com menos de um ano de idade. Seu pai deixou-lhe aos cuidados de uma ama, como era costume acontecer com as crianças filhas da classe média ou da nobreza que perdiam as suas mães. Como seu pai era funcionário público, tinha uma boa condição financeira e proporcionou ao filho uma educação de elite.

Descartes estudou no colégio jesuíta Royal Henry-Le-Grand, situado no castelo de La Flèche. Foi um aluno brilhante e, desde jovem, provocava debates filosóficos intensos com colegas e professores. Nos tempos em que cursou o seminário de La Flèche, Descartes já se encontrava inquieto com algumas questões levantadas por ele no ensino jesuíta, tradicionalmente escolástico, de cunho tomista aristotélico.

Aos 19 anos, o então jovem pensador ingressa no curso de Direito da Universidade de Poitiers, o qual concluiu aos 22 anos de idade. No entanto, o filósofo nunca exerceu a advocacia. Em busca de aventuras e sem vontade de trabalhar na carreira jurídica, Descartes alista-se no exército do príncipe holandês Maurício de Nassau.

A sua carreira como soldado foi curta, recusando-se, inclusive, a receber sua remuneração que lhe era de direito. No entanto, Descartes atuou diversas vezes como conselheiro e estrategista militar, tendo encerrado seu vínculo como conselheiro apenas aos 49 anos de idade. Sua ocupação principal foi o desenvolvimento de estudos nos campos da matemática e da filosofia.   

Ao mesmo tempo em que se alistava na campanha militar de Nassau, Descartes iniciava os estudos mais profundos em matemática. Aos 33 anos, o filósofo tinha concluído a escrita de seu Tratado sobre o mundo, livro sobre ciências da natureza que ele decidiu não publicar porque defendia a tese heliocêntrica ao mesmo tempo em que o físico Galileu Galilei enfrentava complicações com a Igreja Católica por defender a mesma coisa.  

Em 1637 Descartes publicou a sua obra mais conhecida, Discurso do método. Em 1641, publicou outra obra de grande importância para a filosofia moderna, Meditações metafísicas. Em 1649, aceita um convite que a rainha Cristina, da Suécia, fazia-lhe há alguns anos e parte para Estocolmo para ser seu conselheiro pessoal e instrutor. O inverno sueco rigoroso causa ao pensador um quadro de saúde frágil que o levou à morte por pneumonia, em 1650. 
                               
Filosofia de René Descartes
Resgatando as teorias platônicas sobre o conhecimento, Descartes deu origem ao racionalismo moderno, defendendo que o conhecimento humano é inato, ou seja, já nasce com o ser humano, que vai, na medida em que estuda, descobrindo tal conhecimento oculto em si. Ele também operou uma verdadeira revolução na filosofia ao      propor que o pensamento filosófico deveria basear-se em um método mais exato.

Desde os tempos em que estudou em La Flèche, o filósofo observava que os seus professores de matemática sempre chegavam a conclusões exatas, enquanto os de filosofia descordavam entre si com frequência. Na visão do filósofo, isso atestava o fato de que a filosofia necessitava de um método preciso e exato, baseado no raciocínio dedutivo.

No que tange ao conhecimento, Descartes dividiu o ser humano em dois elementos, como Platão, e nomeou-lhes res cogitans e res extensa, isto é, coisa pensante e coisa extensa. Para ele, a coisa pensante era uma espécie de alma que habitava o corpo (coisa extensa) e era capaz de pensar, além de estar com o conhecimento racional naturalmente embutido dentro de si.

Principais ideias de René Descartes

A razão e todo o conhecimento racional são inatos ao ser humano. A diferença entre o nível de inteligência de uns e de outros é o modo como utilizamos a racionalidade.

O conhecimento filosófico, para atingir um bom resultado, deve ser claro e distinto, afastando tudo o que pode gerar qualquer dúvida.

É necessário estabelecer um método para que o conhecimento filosófico atinja a verdade.

→ Racionalismo
Para entendermos o racionalismo cartesiano, precisamos ver as primeiras palavras escritas em seu livro Discurso do método:

“O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada: pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os mais difíceis de contentar em qualquer outra cosa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. Não é verossímil que todos se enganem nesse ponto: antes, isso mostra que a capacidade de bem julgar, e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se chama o bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens; e, assim, que a diversidade de nossas opiniões não se deve a uns serem mais racionais que os outros, mas apenas que conduzimos nossos pensamentos por vias diversas e não consideramos as mesmas coisas.”|1|

O racionalismo encontra-se assentado nas ideias inatas. Para Descartes, todo tipo de conhecimento que não tivesse uma fonte racional (o conhecimento empírico é um deles, pois baseia-se na experiência prática para adquirir elementos para a constituição das ideias) era duvidoso e poderia ser enganoso. Somente o conhecimento racional, baseado nas ideias inatas e fruto das deduções, era suficientemente claro, distinto e absolutamente verdadeiro.

O processo de raciocínio dedutivo, largamente utilizado pela matemática, era o ponto de partida que Descartes defendia para compor o seu método, e era a única garantia para ter-se um conhecimento unívoco, que em todos os seres humanos causaria os mesmos resultados, evitando o erro. A tradição aristotélica na filosofia, que embasou a educação cartesiana por meio do ensino escolástico jesuíta, levava a uma espécie de relativismo causado por enganos, o que deveria, na ótica cartesiana, ser evitado pelos filósofos.

Para ter-se um conhecimento claro, distinto e verdadeiro, era necessário estabelecer um método. O método cartesiano estava, primeiramente, calçado na dúvida metódica e hiperbólica. Esse processo de dúvida era metódico por ser ordenado, organizado por um método, e hiperbólico porque deveria estender-se a tudo e a todos exageradamente. 

Surgia aqui o ceticismo moderno que, diferente do ceticismo helênico, não suspendia os juízos do conhecimento por completo e absolutamente, mas por hora, até que se chegasse a um conhecimento seguro. O primeiro passo para isso era a negação do conhecimento empírico e do senso comum.

As regras para o método cartesiano são as seguintes:

> Evidência: nunca aceitar como verdadeiro um conhecimento duvidoso, aceitando apenas aqueles conhecimentos claros e distintos, sem possibilidade de erro.

> Análise: dividir o problema filosófico que se quer estudar em quantas partes forem possíveis, pois assim a sua compreensão e resolução são facilitadas.

> Síntese: após a divisão, sempre começar resolvendo os problemas menores e menos complexos, pois a junção da resolução das partes menores pode resultar na resolução de um problema mais complexo.

> Enumeração: enumerar todas as partes, pois assim se tem uma maior facilidade de organização. Também faz parte dessa regra a necessidade de revisão de cada parte após a sua conclusão. 

→ Cogito
A dúvida metódica e hiperbólica de Descartes fê-lo alcançar o que ele diz ser o primeiro conhecimento seguro por meio da dedução: o cogito. A seguir, descrevemos o passo a passo percorrido pelo filósofo para chegar-se ao cogito:

Eu devo duvidar de tudo para atingir um conhecimento verdadeiro;
Ao duvidar de tudo, duvido da minha existência;
Ao duvidar, eu estou pensando;
Se penso, logo eu existo.

Diz um velho ditado italiano “traduttore, traditore!” (tradutor, traidor). Essa afirmação aponta para o fato de que, ao traduzir-se uma sentença para outra língua, ela pode perder muito de seu sentido original. Com o cogito cartesiano não foi diferente. Apesar de traduzirmos o cogito para o português como “penso, logo existo”, a escrita original em francês é “je pense, donc je suis”, que também poderia ser traduzida como “penso, logo sou”. Acontece que o verbo francês est indica duplamente “ser” (essência e identidade) e “estar” (condição existencial). Como há uma distinção entre os verbos ser e estar na língua portuguesa, a tradução perdeu-se um pouco e a melhor forma de compreender o cogito em nossa língua foi com a versão “penso, logo existo”. É possível também inferir o sentido de existência do cogito cartesiano após a segunda meditação de Meditações metafísicas, em que Descartes explica que essência e existência, no interior de sua obra, são iguais. 

Principais obras

> Discurso do método: era costume que os intelectuais, desde a Idade Média, escrevessem em latim. Como Descartes pretendia alcançar um público maior (todo aquele que fosse dotado de razão, ou seja, todo ser humano), ele preferiu escrever esse livro em francês. Tal obra apresenta o método, a sua necessidade e as regras para o alcance do conhecimento seguro e verdadeiro.

> Meditações metafísicas: esse livro, já escrito em latim, como uma explicação para o público douto de sua filosofia, faz uma conciliação explicativa de seus pensamentos com questões metafísicas anteriores, como a existência de Deus, com a existência da alma e com o modo como a razão está alocada no ser humano por meio do logos divino.

> Princípios de filosofia: por ter formação jesuíta e criticá-la por sua tradição escolástica, Descartes escreve essa obra com a intenção de proporcionar uma espécie de manual de ensino de filosofia para as escolas jesuítas, a fim de estabelecer a sua filosofia racionalista como mote inicial para o conhecimento verdadeiro.

Frases
“Penso, logo existo.”

“O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada.”

“Muitas vezes, as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel.”

“Não basta termos um bom espírito, o mais importante é aplicá-lo bem.”

Notas

|1|DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. Paulo Neves e introdução de Denis Lerrer Rosenfield. Porto Alegre: L&PM Editores, 2010. p. 37
 


Por Francisco Porfírio
Mundo Educação/ UOL 

O pensamento do francês René Descartes destaca-se na Modernidade. O primeiro racionalista moderno defendeu que o conhecimento era inato ao ser humano e propôs um método dedutivo como ponto inicial de qualquer conhecimento que se pretenda verdadeiro, claro e distinto. 

Exímio matemático, suas contribuições para as ciências exatas foram essenciais para o maior desenvolvimento da geometria analítica, por meio do plano de coordenadas cartesiano, e a física moderna também contou com significativas contribuições do filósofo.

Biografia de René Descartes
Nascido na província de Haye, em 1596, Descartes ficou órfão de mãe com menos de um ano de idade. Seu pai deixou-lhe aos cuidados de uma ama, como era costume acontecer com as crianças filhas da classe média ou da nobreza que perdiam as suas mães. Como seu pai era funcionário público, tinha uma boa condição financeira e proporcionou ao filho uma educação de elite.

Descartes estudou no colégio jesuíta Royal Henry-Le-Grand, situado no castelo de La Flèche. Foi um aluno brilhante e, desde jovem, provocava debates filosóficos intensos com colegas e professores. Nos tempos em que cursou o seminário de La Flèche, Descartes já se encontrava inquieto com algumas questões levantadas por ele no ensino jesuíta, tradicionalmente escolástico, de cunho tomista aristotélico.

Aos 19 anos, o então jovem pensador ingressa no curso de Direito da Universidade de Poitiers, o qual concluiu aos 22 anos de idade. No entanto, o filósofo nunca exerceu a advocacia. Em busca de aventuras e sem vontade de trabalhar na carreira jurídica, Descartes alista-se no exército do príncipe holandês Maurício de Nassau.

A sua carreira como soldado foi curta, recusando-se, inclusive, a receber sua remuneração que lhe era de direito. No entanto, Descartes atuou diversas vezes como conselheiro e estrategista militar, tendo encerrado seu vínculo como conselheiro apenas aos 49 anos de idade. Sua ocupação principal foi o desenvolvimento de estudos nos campos da matemática e da filosofia.   

Ao mesmo tempo em que se alistava na campanha militar de Nassau, Descartes iniciava os estudos mais profundos em matemática. Aos 33 anos, o filósofo tinha concluído a escrita de seu Tratado sobre o mundo, livro sobre ciências da natureza que ele decidiu não publicar porque defendia a tese heliocêntrica ao mesmo tempo em que o físico Galileu Galilei enfrentava complicações com a Igreja Católica por defender a mesma coisa.  

Em 1637 Descartes publicou a sua obra mais conhecida, Discurso do método. Em 1641, publicou outra obra de grande importância para a filosofia moderna, Meditações metafísicas. Em 1649, aceita um convite que a rainha Cristina, da Suécia, fazia-lhe há alguns anos e parte para Estocolmo para ser seu conselheiro pessoal e instrutor. O inverno sueco rigoroso causa ao pensador um quadro de saúde frágil que o levou à morte por pneumonia, em 1650. 
                               
Filosofia de René Descartes
Resgatando as teorias platônicas sobre o conhecimento, Descartes deu origem ao racionalismo moderno, defendendo que o conhecimento humano é inato, ou seja, já nasce com o ser humano, que vai, na medida em que estuda, descobrindo tal conhecimento oculto em si. Ele também operou uma verdadeira revolução na filosofia ao      propor que o pensamento filosófico deveria basear-se em um método mais exato.

Desde os tempos em que estudou em La Flèche, o filósofo observava que os seus professores de matemática sempre chegavam a conclusões exatas, enquanto os de filosofia descordavam entre si com frequência. Na visão do filósofo, isso atestava o fato de que a filosofia necessitava de um método preciso e exato, baseado no raciocínio dedutivo.

No que tange ao conhecimento, Descartes dividiu o ser humano em dois elementos, como Platão, e nomeou-lhes res cogitans e res extensa, isto é, coisa pensante e coisa extensa. Para ele, a coisa pensante era uma espécie de alma que habitava o corpo (coisa extensa) e era capaz de pensar, além de estar com o conhecimento racional naturalmente embutido dentro de si.

Principais ideias de René Descartes

A razão e todo o conhecimento racional são inatos ao ser humano. A diferença entre o nível de inteligência de uns e de outros é o modo como utilizamos a racionalidade.

O conhecimento filosófico, para atingir um bom resultado, deve ser claro e distinto, afastando tudo o que pode gerar qualquer dúvida.

É necessário estabelecer um método para que o conhecimento filosófico atinja a verdade.

→ Racionalismo
Para entendermos o racionalismo cartesiano, precisamos ver as primeiras palavras escritas em seu livro Discurso do método:

“O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada: pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os mais difíceis de contentar em qualquer outra cosa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. Não é verossímil que todos se enganem nesse ponto: antes, isso mostra que a capacidade de bem julgar, e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se chama o bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens; e, assim, que a diversidade de nossas opiniões não se deve a uns serem mais racionais que os outros, mas apenas que conduzimos nossos pensamentos por vias diversas e não consideramos as mesmas coisas.”|1|

O racionalismo encontra-se assentado nas ideias inatas. Para Descartes, todo tipo de conhecimento que não tivesse uma fonte racional (o conhecimento empírico é um deles, pois baseia-se na experiência prática para adquirir elementos para a constituição das ideias) era duvidoso e poderia ser enganoso. Somente o conhecimento racional, baseado nas ideias inatas e fruto das deduções, era suficientemente claro, distinto e absolutamente verdadeiro.

O processo de raciocínio dedutivo, largamente utilizado pela matemática, era o ponto de partida que Descartes defendia para compor o seu método, e era a única garantia para ter-se um conhecimento unívoco, que em todos os seres humanos causaria os mesmos resultados, evitando o erro. A tradição aristotélica na filosofia, que embasou a educação cartesiana por meio do ensino escolástico jesuíta, levava a uma espécie de relativismo causado por enganos, o que deveria, na ótica cartesiana, ser evitado pelos filósofos.

Para ter-se um conhecimento claro, distinto e verdadeiro, era necessário estabelecer um método. O método cartesiano estava, primeiramente, calçado na dúvida metódica e hiperbólica. Esse processo de dúvida era metódico por ser ordenado, organizado por um método, e hiperbólico porque deveria estender-se a tudo e a todos exageradamente. 

Surgia aqui o ceticismo moderno que, diferente do ceticismo helênico, não suspendia os juízos do conhecimento por completo e absolutamente, mas por hora, até que se chegasse a um conhecimento seguro. O primeiro passo para isso era a negação do conhecimento empírico e do senso comum.

As regras para o método cartesiano são as seguintes:

> Evidência: nunca aceitar como verdadeiro um conhecimento duvidoso, aceitando apenas aqueles conhecimentos claros e distintos, sem possibilidade de erro.

> Análise: dividir o problema filosófico que se quer estudar em quantas partes forem possíveis, pois assim a sua compreensão e resolução são facilitadas.

> Síntese: após a divisão, sempre começar resolvendo os problemas menores e menos complexos, pois a junção da resolução das partes menores pode resultar na resolução de um problema mais complexo.

> Enumeração: enumerar todas as partes, pois assim se tem uma maior facilidade de organização. Também faz parte dessa regra a necessidade de revisão de cada parte após a sua conclusão. 

→ Cogito
A dúvida metódica e hiperbólica de Descartes fê-lo alcançar o que ele diz ser o primeiro conhecimento seguro por meio da dedução: o cogito. A seguir, descrevemos o passo a passo percorrido pelo filósofo para chegar-se ao cogito:

Eu devo duvidar de tudo para atingir um conhecimento verdadeiro;
Ao duvidar de tudo, duvido da minha existência;
Ao duvidar, eu estou pensando;
Se penso, logo eu existo.

Diz um velho ditado italiano “traduttore, traditore!” (tradutor, traidor). Essa afirmação aponta para o fato de que, ao traduzir-se uma sentença para outra língua, ela pode perder muito de seu sentido original. Com o cogito cartesiano não foi diferente. Apesar de traduzirmos o cogito para o português como “penso, logo existo”, a escrita original em francês é “je pense, donc je suis”, que também poderia ser traduzida como “penso, logo sou”. Acontece que o verbo francês est indica duplamente “ser” (essência e identidade) e “estar” (condição existencial). Como há uma distinção entre os verbos ser e estar na língua portuguesa, a tradução perdeu-se um pouco e a melhor forma de compreender o cogito em nossa língua foi com a versão “penso, logo existo”. É possível também inferir o sentido de existência do cogito cartesiano após a segunda meditação de Meditações metafísicas, em que Descartes explica que essência e existência, no interior de sua obra, são iguais. 

Principais obras

> Discurso do método: era costume que os intelectuais, desde a Idade Média, escrevessem em latim. Como Descartes pretendia alcançar um público maior (todo aquele que fosse dotado de razão, ou seja, todo ser humano), ele preferiu escrever esse livro em francês. Tal obra apresenta o método, a sua necessidade e as regras para o alcance do conhecimento seguro e verdadeiro.

> Meditações metafísicas: esse livro, já escrito em latim, como uma explicação para o público douto de sua filosofia, faz uma conciliação explicativa de seus pensamentos com questões metafísicas anteriores, como a existência de Deus, com a existência da alma e com o modo como a razão está alocada no ser humano por meio do logos divino.

> Princípios de filosofia: por ter formação jesuíta e criticá-la por sua tradição escolástica, Descartes escreve essa obra com a intenção de proporcionar uma espécie de manual de ensino de filosofia para as escolas jesuítas, a fim de estabelecer a sua filosofia racionalista como mote inicial para o conhecimento verdadeiro.

Frases
“Penso, logo existo.”

“O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada.”

“Muitas vezes, as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel.”

“Não basta termos um bom espírito, o mais importante é aplicá-lo bem.”

Notas

|1|DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. Paulo Neves e introdução de Denis Lerrer Rosenfield. Porto Alegre: L&PM Editores, 2010. p. 37