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Tira Dúvidas

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O que foi a Crise dos Mísseis?

13 de Janeiro de 2020

Por Cláudio Fernandes
Mundo Educação/ UOL 

O episódio conhecido como “Crise dos mísseis” ocorreu entre os dias 16 a 28 de outubro de 1962. Tratou-se do maior momento de tensão entre as duas grandes superpotências políticas e militares da época, Estados Unidos e União Soviética; tensão esta gerada pela instalação de mísseis balísticos nucleares, por parte da URSS, em solo cubano (portanto, próximo do território estadunidense).

Cada míssil tinha o alcance de 1.600 quilômetros de distância, e poderia chegar à capital americana, Washington, em cerca de 13 minutos.

Contudo, para compreendermos melhor esse episódio, é necessário que nos debrucemos um pouco sobre o contexto que o envolve.

Revolução Cubana e adesão de Fidel Castro ao bloco soviético
A Revolução Cubana, como é sabido, aconteceu em 1959, quando o grupo de guerrilheiros liderado pelos irmãos Fidel e Raúl Castro, por Ernesto “Che” Guevara e outros, tomaram o poder na ilha, forçando a fuga do presidente Fulgêncio Batista. Entretanto, a revolução não possuía um viés diretamente associado ao comunismo. Isso só ocorreu em 1961, quando Fidel Castro disse, explicitamente, ser um “marxista-leninista”, e estreitou vínculos com o bloco soviético, aderindo ao comunismo internacional.

Neste mesmo ano de 1961, entre os dias 17 e 19 de abril, houve a chamada Batalha de Praia Girón, desencadeada pela invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, por parte de cubanos exilados, apoiados pelos EUA.

A tentativa contrarrevolucionária não deu certo, mas, associada à declaração de adesão ao bloco soviético de Castro, gerou o início da tensão que se estenderia até o ano seguinte.

Essa era a época em que a Guerra Fria chegava ao seu auge, na qual imperavam a “Corrida Armamentista” e a “Corrida Espacial”, com as lideranças de cada bloco, o americano e o soviético, sendo exercidas por John Kennedy e Nikita Krutchev, respectivamente.

Descoberta da base de lançamento dos mísseis e o “sábado negro”
A Crise dos mísseis teve início de fato quando aviões americanos, do modelo U-2, em sobrevoo de espionagem sobre o território cubano, identificaram, no dia 14 de outubro de 1962, diversas bases para mísseis balísticos nucleares sendo construídas. 

Quando a inteligência do Exército dos EUA averiguou as imagens das câmaras do U-2, percebeu que se tratavam de mísseis soviéticos de dois tipos, o R-12 Dvina (também conhecido como SS-4 Sandal) e o R-14 Chusovaya, ambos de médio alcance e com grande poder de destruição.

Kennedy e seus comandantes militares optaram por não fazer nenhuma ação ofensiva contra Cuba, e trataram de manter a ilha sob “quarentena”, isto é, estabelecer bloqueios.

O objetivo de Cuba, ao aceitar a instalação dos mísseis soviéticos, era forçar os EUA a debelar qualquer nova tentativa de invasão ou de associação a cubanos contrarrevolucionários. Ao longo dos dias que seguiram, autoridades soviéticas e americanas tentaram chegar a uma solução, já que a URSS também se sentia pressionada pela presença de mísseis balísticos americanos na Turquia. 

Em 27 de outubro, a tensão chegou ao ápice e este dia chegou a ser denominado de “sábado negro”: um avão U-2 foi abatido pelo Exército cubano, provocando a morte do piloto americano. O mundo ficou apreensivo, já que a iminência de uma guerra nuclear nunca havia estado tão próxima.

Resolução da tensão
Em 28 de outubro, a tensão chegou ao fim após a seguinte negociação: a URSS promoveria a retirada dos mísseis de Cuba com a condição de: 

1) os EUA não tentarem invadir a ilha; 

2) os EUA retirarem os mísseis da Turquia. 

Ao mesmo tempo, outros países, como o Brasil, participavam secretamente da negociação da crise. Um dos envolvidos foi o então embaixador brasileiro em Washington, que, reportando ao governo de João Goulart, descrevia passo a passo a tentativa de resolução:

[…] no dia 28 de outubro o Embaixador Roberto de Oliveira Campos tomou nota das informações públicas sobre o acordo – ainda que desconhecendo o entendimento secreto sobre o desmantelamento das bases de mísseis norte-americanos na Europa – e transmitiu ao Rio de Janeiro a seguinte mensagem:

“ainda que a Casa Branca declare não ter recebido oficialmente a terceira proposta de Khruschev, já está sendo ela amplamente divulgada pelo rádio. Implica recuo russo ao aceitar: 

1) imediato desmantelamento das bases [em Cuba]; 

2) inspeção internacional; 

3) abandonada exigência de reciprocidade na Turquia”. [1]

Acrescenta Campos:

Também, “A nota de Kennedy aceita secamente um compromisso de não invasão por parte dos Estados Unidos, indicando que os países latino-americanos, provavelmente concordassem com garantias semelhantes, sem se comprometer explicitamente, porém, a impedir operações de guerrilha ou infiltração por parte de exilados cubanos”. [2]

O acordo mútuo finalmente foi cumprido, com desdobramentos diplomáticos que se acumularam pelos anos seguinte. Mas o pesadelo de uma guerra nuclear foi afastado.

NOTAS

[1] AVILA, Carlos Federico Domínguez. A crise dos mísseis soviéticos em Cuba (1962) – um estudo das iniciativas brasileiras. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 28. n. 47, jan/jun de 2012. p. 383.

[2] Ibid. p. 383.

Imagem: Um dos modelos de míssil nuclear soviético que provocaram a crise dos mísseis de 1962


Por Cláudio Fernandes
Mundo Educação/ UOL 

O episódio conhecido como “Crise dos mísseis” ocorreu entre os dias 16 a 28 de outubro de 1962. Tratou-se do maior momento de tensão entre as duas grandes superpotências políticas e militares da época, Estados Unidos e União Soviética; tensão esta gerada pela instalação de mísseis balísticos nucleares, por parte da URSS, em solo cubano (portanto, próximo do território estadunidense).

Cada míssil tinha o alcance de 1.600 quilômetros de distância, e poderia chegar à capital americana, Washington, em cerca de 13 minutos.

Contudo, para compreendermos melhor esse episódio, é necessário que nos debrucemos um pouco sobre o contexto que o envolve.

Revolução Cubana e adesão de Fidel Castro ao bloco soviético
A Revolução Cubana, como é sabido, aconteceu em 1959, quando o grupo de guerrilheiros liderado pelos irmãos Fidel e Raúl Castro, por Ernesto “Che” Guevara e outros, tomaram o poder na ilha, forçando a fuga do presidente Fulgêncio Batista. Entretanto, a revolução não possuía um viés diretamente associado ao comunismo. Isso só ocorreu em 1961, quando Fidel Castro disse, explicitamente, ser um “marxista-leninista”, e estreitou vínculos com o bloco soviético, aderindo ao comunismo internacional.

Neste mesmo ano de 1961, entre os dias 17 e 19 de abril, houve a chamada Batalha de Praia Girón, desencadeada pela invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, por parte de cubanos exilados, apoiados pelos EUA.

A tentativa contrarrevolucionária não deu certo, mas, associada à declaração de adesão ao bloco soviético de Castro, gerou o início da tensão que se estenderia até o ano seguinte.

Essa era a época em que a Guerra Fria chegava ao seu auge, na qual imperavam a “Corrida Armamentista” e a “Corrida Espacial”, com as lideranças de cada bloco, o americano e o soviético, sendo exercidas por John Kennedy e Nikita Krutchev, respectivamente.

Descoberta da base de lançamento dos mísseis e o “sábado negro”
A Crise dos mísseis teve início de fato quando aviões americanos, do modelo U-2, em sobrevoo de espionagem sobre o território cubano, identificaram, no dia 14 de outubro de 1962, diversas bases para mísseis balísticos nucleares sendo construídas. 

Quando a inteligência do Exército dos EUA averiguou as imagens das câmaras do U-2, percebeu que se tratavam de mísseis soviéticos de dois tipos, o R-12 Dvina (também conhecido como SS-4 Sandal) e o R-14 Chusovaya, ambos de médio alcance e com grande poder de destruição.

Kennedy e seus comandantes militares optaram por não fazer nenhuma ação ofensiva contra Cuba, e trataram de manter a ilha sob “quarentena”, isto é, estabelecer bloqueios.

O objetivo de Cuba, ao aceitar a instalação dos mísseis soviéticos, era forçar os EUA a debelar qualquer nova tentativa de invasão ou de associação a cubanos contrarrevolucionários. Ao longo dos dias que seguiram, autoridades soviéticas e americanas tentaram chegar a uma solução, já que a URSS também se sentia pressionada pela presença de mísseis balísticos americanos na Turquia. 

Em 27 de outubro, a tensão chegou ao ápice e este dia chegou a ser denominado de “sábado negro”: um avão U-2 foi abatido pelo Exército cubano, provocando a morte do piloto americano. O mundo ficou apreensivo, já que a iminência de uma guerra nuclear nunca havia estado tão próxima.

Resolução da tensão
Em 28 de outubro, a tensão chegou ao fim após a seguinte negociação: a URSS promoveria a retirada dos mísseis de Cuba com a condição de: 

1) os EUA não tentarem invadir a ilha; 

2) os EUA retirarem os mísseis da Turquia. 

Ao mesmo tempo, outros países, como o Brasil, participavam secretamente da negociação da crise. Um dos envolvidos foi o então embaixador brasileiro em Washington, que, reportando ao governo de João Goulart, descrevia passo a passo a tentativa de resolução:

[…] no dia 28 de outubro o Embaixador Roberto de Oliveira Campos tomou nota das informações públicas sobre o acordo – ainda que desconhecendo o entendimento secreto sobre o desmantelamento das bases de mísseis norte-americanos na Europa – e transmitiu ao Rio de Janeiro a seguinte mensagem:

“ainda que a Casa Branca declare não ter recebido oficialmente a terceira proposta de Khruschev, já está sendo ela amplamente divulgada pelo rádio. Implica recuo russo ao aceitar: 

1) imediato desmantelamento das bases [em Cuba]; 

2) inspeção internacional; 

3) abandonada exigência de reciprocidade na Turquia”. [1]

Acrescenta Campos:

Também, “A nota de Kennedy aceita secamente um compromisso de não invasão por parte dos Estados Unidos, indicando que os países latino-americanos, provavelmente concordassem com garantias semelhantes, sem se comprometer explicitamente, porém, a impedir operações de guerrilha ou infiltração por parte de exilados cubanos”. [2]

O acordo mútuo finalmente foi cumprido, com desdobramentos diplomáticos que se acumularam pelos anos seguinte. Mas o pesadelo de uma guerra nuclear foi afastado.

NOTAS

[1] AVILA, Carlos Federico Domínguez. A crise dos mísseis soviéticos em Cuba (1962) – um estudo das iniciativas brasileiras. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 28. n. 47, jan/jun de 2012. p. 383.

[2] Ibid. p. 383.

Imagem: Um dos modelos de míssil nuclear soviético que provocaram a crise dos mísseis de 1962