RPG ‘Reinos de Kaevi’ bomba nas aulas de Matemática do prof. Vitor
Um jogo com dragões, serpentes gigantes, cavernas escuras, entre outros cenários peculiares e criaturas, por vezes assustadoras, praticado em narrativa e enredo intrigantes, com desdobramentos inesperados resultantes das escolhas dos jogadores, que interpretam seus personagens, foi a forma encontrada pelo professor de Matemática do Colégio Oficina do Estudante de Campinas (SP), Vitor Caetano Silva, para, em meio a pandemia, atrair mais a atenção dos alunos das 7ª séries do Ensino Fundamental, que têm idade entre 12 e 13 anos.
> SAIBA!
Após cerca de 25 minutos de aula “comum”, por exemplo, com equações, números inteiros e o esclarecimento do que é um sêxtuplo, as luzes são apagadas para dar mais ênfase visual ao projetor. Nele, será exibido o ambiente virtual, que serve de pano de fundo para o game, que se desenrola numa mistura de explanação e quiz.
Mediante ao anúncio do início do jogo, há grande euforia, tanto entre os presentes na sala, quanto entre os que estão acompanhando as aulas em casa. Alguns chegam a saltar nas carteiras. O docente garante que, com a aplicação da gamificação, os estudantes que, de modo geral, ficaram mais dispersos em decorrência do “novo normal”, passaram a demonstrar mais interesse nos conteúdos e na disciplina (historicamente estereotipada como chata).
“As aulas ficaram mais animadas e dinâmicas. Eles lembram e me cobram, comemorando, nos dias que devemos ter os ‘Reinos de Kaevi’ (nome do jogo). Percebi o engajamento maior inclusive nas tarefas, as quais podem envolver jogos também, sempre alinhado com o conteúdo que estamos trabalhando.”
A utilização do método gerou uma enxurrada de elogios por parte dos alunos ao professor.
→ PAIXÃO POR GAMES
Vitor revela que sempre foi apaixonado por jogos. Vendo o gosto dos alunos por esse universo, tentava promover algumas atividades básicas com games. Contudo, eles terminavam na aula, sem uma continuação. Buscando algo a mais, pesquisou sobre gamificação e encontrou os “princípios de aprendizagem”, conceitos presentes em obras do linguista estadunidense James Paul Gee.
> SAIBA MAIS!
Esses fundamentos empregam características existentes em jogos para, por exemplo, deixar os conteúdos abordados nas aulas mais estimulantes. Fez também um curso sobre o tema para ampliar seu leque de possibilidades para gamificar. Com esse embasamento, começou a elaborar a metodologia e planejar sua implementação.
“Nesse caso, durante as aulas, está sendo criado um jogo com os alunos, onde a cada semana eles desenvolvem uma parte da história. Primeiramente, com muita criatividade, cada aluno teve que criar o seu personagem (que é um dos princípios de aprendizagem de James Paul Gee), nomeando-o e fazendo um desenho ou uma montagem gráfica. Ao longo da história, outras características são desenvolvidas e há uma conexão entre ela e os conteúdos matemáticos abordados”, explica.
Vitor destaca que, além de deixar o aprendizado mais efetivo, a gamificação tem possibilitado desenvolver em seus alunos habilidades diferentes, além das habituais da Matemática. Na atmosfera criada, dentre outros, os jovens despertam ou exercitam o espírito de competição, trabalho em equipe e senso de responsabilidade. O último, pôr literalmente arcarem – dentro do contexto do jogo – com a consequência de seus atos, que pode resultar, entre outros, no enfrentamento de uma besta-fera ou desabastecimento dos suprimentos alimentares de uma vila.
→ JOGO: REINOS DE KAEVI
Vitor esclarece que o jogo é separado em três tipos de semanas: História, Atividade e Protagonismo. Na história, ele conta um pouco sobre a história do jogo e, em cada situação, os personagens são chamados para decidirem o que farão. “Ou seja, os alunos discutem a melhor opção, prestando atenção nos acontecimentos. Para cada escolha, há uma resposta (sequência) diferente;”, contextualizou.
Na Atividade, os estudantes devem desenvolver alguma tarefa matemática para conseguir melhorar a situação dos personagens deles na jornada. Já no Protagonismo, os jovens têm a oportunidade de guiar a história, acrescentando algum desdobramento que pode acontecer durante o jogo.
“A história base do jogo é a mesma para todas as turmas. Porém, como cada personagem chegará em cada etapa, depende das escolhas feitas pela sala. Desta forma, os alunos não só assistem, mas também produzem”.
O professor frisa que, o fato da história ser contada aos poucos a cada semana, gerou muita curiosidade. “Às vezes, quando termino a aula, ouço eles debatendo o que poderá acontecer depois ou o que poderia ter ocorrido se tivessem feito uma opção diferente da realizada”.
> VEJA!
Vitor encerra que partes do game ainda estão em desenvolvimento. Uma pontuação e recompensas pelas atuações na história serão incluídas no início do próximo semestre. “Além disso, planejo mais materiais para serem trabalhados fora do tempo das aulas, para eles continuarem a interação e o desenvolvimento de habilidades”, finalizou.
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