Análise: 1ª fase da Unicamp foi inteligente e calcada na realidade
Análise: 1ª fase da Unicamp foi inteligente e calcada na realidade
Gabriela Fujita
Do UOL, em São Paulo
É unânime a análise feita pelos quatro professores ouvidos pelo UOL sobre a primeira fase do vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), realizada neste domingo (18): a prova trouxe assuntos atuais, foi marcada pela contextualização e exigiu capacidade analítica dos candidatos.
“Essa prova indica claramente o tipo de estudante que a Unicamp deseja: um estudante que tem um repertório sólido, bem informado, crítico, com conhecimentos culturais amplos. A Unicamp não quer estudantes bitolados, isso é muito claro. É uma prova bastante elogiável”, afirma Daniel Perry, coordenador do curso Anglo.
Os quase 70 mil candidatos responderam a 90 questões de conhecimentos gerais, disputando uma das 2.589 vagas disponíveis para 69 cursos em 2019.
“Em Português, podemos ressaltar que foi exigente, mas possível, com uma leitura crítica do mundo atual. Usou muitas mídias sociais, Facebook, Instagram, muita charge”, diz Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora pedagógica do curso e colégio Objetivo.
“As obras literárias [que a universidade pede] foram cobradas, não todas, mas um pouco mais da metade eles cobraram. Havia necessidade de o candidato ter lido. Não dava para fazer as questões se ele não tivesse lido.”
Temas variados e recentes conduziram a prova. Entre eles, os 50 anos do Maio de 1968, a recuperação ambiental em Chernobyl, um slogan do presidente Michel Temer (MDB), fake news e depilação a laser.
“É uma prova contemporânea, do século 21, que liga conceitos, informações importantes e até tradicionais do ensino médio à realidade política, social que a gente vive. Acaba com aquela questão de o aluno ficar perguntando: Mas para que eu estudo isso?”, diz Célio Tasinafo, diretor pedagógico da Oficina do Estudante.
“A gente tem temas como racismo, democracia e fascismo, o regime militar e o fim das liberdades básicas com censura, a crise econômica, o aquecimento global, massacres por motivos culturais e étnicos em Mianmar, o crescimento da violência no campo no Brasil nos últimos três anos”, ele completa. “E os temas foram tratados de forma muito sóbria. É uma prova calcada na realidade.”
“Matemática destoou e foi o oposto”
De acordo com os professores, a prova de Matemática, como de costume nos últimos anos, destoou do padrão de interpretação de textos mais longos e com respostas extensas que define as outras matérias.
Matemática foi o oposto, muito simples e fácil, bem adequada à primeira fase, avalia Vera Lúcia da Costa Antunes. “Não foi longa, não foi trabalhosa, e as demais foram.”
“Matemática é o que destoa porque não é contextualizada, como já aconteceu em anos anteriores. É uma prova com questões diretas. De toda forma, havia 14 questões e 14 temas, é uma prova abrangente”, diz Daniel Perry.
Já a parte de Química foi apontada como a mais difícil, com necessidade de o candidato extrair informações através de gráficos, tabelas, textos, com muita habilidade de análise.
Em História, ganhou destaque a questão que trazia a letra da canção “Bella ciao”, canção italiana do fim do século 19, usada mais tarde por italianos contrários ao regime fascista. Mais recentemente, apareceu entoada por personagens da série “La Casa de Papel”, da Netflix.
“Tinha que analisar uma imagem, tinha que analisar a música, tinha que ter conhecimento conceitual sobre o fascismo e também o entendimento da importância dessa música na atualidade, que é de repercussão internacional”, afirma Perry.
A Comvest, comissão organizadora do vestibular, vai divulgar em seu site o gabarito das questões na próxima quinta-feira (22). A lista de aprovados na primeira fase será divulgada no dia 10 de dezembro, juntamente com os locais de prova da segunda fase e as notas de corte.
A segunda fase será realizada nos dias 13, 14 e 15 de janeiro de 2019. As provas de Habilidades Específicas para os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança serão feitas entre 21 e 25 de janeiro, em Campinas (SP).
“A Unicamp manteve suas características principais, não é, dos exames de conhecimentos gerais, o mais difícil, mas uma prova que trouxe uma boa avaliação e muitos desafios para os candidatos. É uma prova muito interpretativa. Talvez um pouco mais difícil que no ano passado e tratando menos de temas controversos”, conclui Edmilson Motta, coordenador geral do grupo Etapa.
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