Educação Financeira: mais do que falar sobre dinheiro
“A educação financeira transcende a relação com o dinheiro.” É assim que o mestre em Educação e matemático, Rodrigo Serra, começa quando perguntado sobre esse tema tão relevante e fundamental para crianças e adolescentes e, claro, para os pais. “A ideia de valor é a base da educação financeira e, à medida que as crianças vão se desenvolvendo, compreendendo e aprendendo por meio das ações dos adultos, pode-se trabalhar os conceitos de valores por meio do diálogo e reflexão.”
O professor do Colégio Oficina do Estudante explica que as crianças estão em busca de autonomia dentro do processo de aprendizagem e esse tema pode começar a ser conversado já nos primeiros anos do Ensino Fundamental Anos Iniciais (EFAI). Para isso, os pais, junto à escola, devem atuar na transmissão de valores, na relação com o consumo consciente, na disciplina, nas ações e nas suas consequências. Confira alguns exemplos práticos que podem ajudar a ensinar sobre educação financeira para crianças e adolescentes:
– Quando ganha um presente, tem ideia do preço que foi pago?
– Quanto esforço os familiares fizeram para comprar aquele item?
– Quantos dias os pais devem trabalhar para comprar um item que desejam ter?
– Se acabar o dinheiro da mesada antes do mês, quais serão as consequências?
“Especificamente para as crianças, pode-se sempre pautar no diálogo e na conscientização. Conversar, por exemplo, sobre o próprio cuidado com as roupas, materiais escolares, o dinheiro da merenda, entre muitos outros pontos. Inclusive, na palavra educação, temos o sufixo ação, e essa deve ser consciente, dialogada e, claro, com limites e disciplina.”
O professor argumenta que trabalhar conceitos que as crianças já ouvem no dia a dia, tais como à vista, a prazo, crédito, débito ou Pix – mais atual – ajuda a construir o cenário para a compreensão da educação financeira. “Um bom início é explicar, com exemplos fáceis e práticos, a diferença entre pagar à vista e no crédito, que são formas de pagamento bem distintas.”
Férias: excelente momento para conversar sobre… valores!
As férias escolares são um momento de alegria e descanso para as crianças e adolescentes, mas também podem ser um período de muitos gastos para os pais. Para aproveitar ao máximo esse tempo sem comprometer o orçamento familiar, é importante ensinar os pequenos sobre educação financeira desde cedo. “É um rico e oportuno momento para se dialogar sobre planejamento e a ideia de algumas perguntas que devemos fazer ao se pensar em comprar ou consumir algo: realmente estou precisando? Se sim, cabe no meu orçamento planejado?”
Confira dicas de atividades e brincadeiras para os pais colocarem em prática com seus filhos, crianças e adolescentes, durante as férias:
– Crie um cofrinho personalizado para a criança decorar e guardar o dinheiro que ela recebe de mesada, presentes ou economiza de outras maneiras. – Incentive-a a colocar metas para alcançar, como comprar um brinquedo ou ir a um passeio especial;
– Brinque de supermercado ou loja com a criança usando dinheiro de mentira. Essa é uma ótima maneira de ensiná-la sobre o valor das coisas, como fazer compras e dar troco;
– Apresente um aplicativo de controle financeiro para o adolescente e incentive-o a usá-lo para acompanhar seus gastos;
– Ajude a definir metas financeiras, como comprar um celular novo, viajar ou fazer um curso. Juntos, vocês podem criar um plano para alcançar essas metas;
– Ensine sobre investimentos e como ele pode começar a investir, já que existem diversas opções de investimentos para iniciantes, como poupança, fundos de investimento e ações.
Educação Financeira na infância: responsabilidade maior com dinheiro no futuro
Além da responsabilidade com os recursos financeiros, uma trajetória na infância/adolescência com aprendizagem no âmbito da Educação Financeira, baseada em planejamento, valores, dimensões dos limites e possibilidades diante dos recursos, administração de conflitos internos e tomada de decisões, colabora muito para a gestão e autonomia das ações da pessoa enquanto adulta. “Construir, por meio de conceitos, vivências e projetos desde criança é bem diferente do que muitas vezes ocorre, um adulto ter que lidar com todas essas questões de forma súbita.”
O docente esclarece que a Educação Financeira vai além dos conceitos matemáticos expressos por cálculos de juros simples/compostos, porcentagens, valores presentes e futuros, e que a Matemática é importante nesse cenário para auxiliar na construção dos caminhos da Educação Financeira. “A ação de educar requer diálogo, planejamento, planos, projetos, conscientização e busca de autonomia, alternando espaços de protagonismo entre família, alunos, escolas e sociedade. Trabalhar a Educação Financeira com crianças e adolescentes consiste na pavimentação de uma estrada segura que leva a uma vida adulta com mais liberdade, segurança, saúde e consciência para gerirem seus recursos financeiros, realizarem seus projetos e viverem suas cidadanias.”
O professor explica que estabelecer limites sobre o consumo e uso de recursos do dia a dia por meio do diálogo, exemplo e presença é fundamental. “Conversar com os filhos sobre o valor do dinheiro, de onde vem, e quanto trabalho e dedicação estão envolvidos é uma forma de educar para o consumo consciente. Assim, as futuras compras irão além das marcas, rótulos e grifes, focando na real necessidade que se tem ou não. Ensinar as crianças a pouparem, usarem o cofrinho, mas, sobretudo, entenderem o que fazer com esses recursos posteriormente, sempre de forma responsável e planejada.”
“Crianças e adolescentes aprendem mais com o exemplo do que com palavras, por isso, é importante que você pratique o que ensina sobre como lidar com o dinheiro. ‘Ao colocar essas dicas em prática, você estará ajudando seus filhos a desenvolver uma relação saudável com o dinheiro e a se tornar adultos financeiramente responsáveis,’ finaliza Rodrigo.
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